Dólar desce a R$5,13 e renova mínima em 4 meses com farta liquidez global

Reuters

Publicado 03.12.2020 17:06

Atualizado 03.12.2020 17:30

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar sofreu nesta quinta-feira mais uma forte queda ante o real, renovando mínimas em mais de quatro meses em meio a um movimento generalizado de vendas da divisa norte-americana, ditado pela confiança na retomada da economia global em um ambiente de farta liquidez.

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre --que vieram aquém do esperado-- nem de longe impediram nova rodada de alívio no câmbio, uma vez que, de toda forma, indicaram que a atividade seguiu em recuperação e em ritmo superior a vários de seus pares emergentes.

O dólar à vista caiu 1,96%, a 5,1394 reais na venda, menor patamar para um fechamento desde 22 de julho passado (5,1143 reais).

A cotação operou em queda durante todo pregão, oscilando entre 5,122 reais (-2,29%) e 5,232 reais (-0,19%). A máxima foi batida logo no começo dos negócios e a partir de então o dólar entrou em rota descendente até por volta de 13h30, quando estabilizou a baixa.

Na B3, o dólar futuro cedia 1,63%, a 5,1345 reais, às 17h10, depois de tocar 5,1220 reais, mínima intradiária desde 29 de julho (5,1160 reais).

O movimento local ocorreu na esteira de mais um dia de queda ampla do dólar no mundo. A moeda norte-americana caía frente a 30 de seus 33 principais pares, exibindo maior fraqueza ante divisas que se beneficiam de demanda por risco.

O índice do dólar contra uma cesta de rivais cedia 0,36% no fim da tarde, renovando mínimas em mais de dois anos e meio.

O real liderou os ganhos entre as principais divisas, seguido por peso colombiano (+1,5%), rublo russo (+1,1%) e lira turca (+1%).

"O 'muralha de dinheiro' para os mercados emergentes é o maior de todos os tempos e supera os influxos após a crise financeira global em 2010. A China é uma grande diferença, pois agora está atraindo fluxos maciços, ao contrário de 2010, mas fora da China os emergentes também estão vendo uma incrível 'muralha de dinheiro'", disse no Twitter Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).

Mas analistas também têm citado a performance melhor do real ante seus pares. Contra o peso mexicano, por exemplo, a moeda brasileira salta 7,3% desde 4 de novembro --dia seguinte à eleição presidencial norte-americana. No mesmo dia 4 de novembro o real atingiu uma mínima em 16 anos frente ao peso.

A comparação da moeda brasileira com a mexicana é vista como um bom termômetro da avaliação de investidores internacionais sobre o câmbio doméstico.

"O real valorizou bastante contra as outras moedas emergentes. Portanto, foi por alguma melhora no sentimento dos investidores para Brasil. No relativo o Brasil foi melhor", disse Marcos Weigt consultor em risco de mercado, tesouraria, câmbio e hedge.

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Nesta semana, o mercado saudou comentário do presidente Jair Bolsonaro de que não é possível "perpetuar" benefícios concedidos à população por conta da pandemia do novo coronavírus e acrescentou que é necessário definir a situação. A fala amenizou temores sobre mais gastos em 2021, que deteriorariam mais a já frágil situação das contas públicas --fator principal para a queda de 21,92% do real ante o dólar neste ano.

Nos primeiros três dias de dezembro, o dólar caiu 3,88% (real valorizou-se 4,03%). Em novembro, a moeda dos EUA perdeu 6,82% --maior baixa mensal desde outubro de 2018 (-7,79%) e a mais forte para meses de novembro desde pelo menos 2002.

Alfredo Menezes, sócio na Armor Capital, chama atenção ainda para a sinalização de oferta adicional de liquidez por parte do Banco Central como um elemento a respaldar o desempenho mais forte do real.