Dólar dispara acima de R$5,30 com fuga global para segurança e temor fiscal por PEC dos auxílios

Reuters

Publicado 01.07.2022 09:10

Atualizado 01.07.2022 11:20

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava contra o real nesta sexta-feira, superando com folga a marca de 5,30 reais conforme investidores reagiam à aprovação pelo Senado na véspera de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um estado de emergência para ampliar e criar novos auxílios sociais, enquanto temores internacionais de recessão colaboravam para a busca por segurança.

Além de reconhecer o estado de emergência para criar o "voucher caminhoneiro" e de ampliar o Auxílio Brasil e o Auxílio Gás, a PEC aprovada foi complementada para incluir a concessão de um benefício destinado a taxistas e ainda um crédito suplementar a programa alimentar.

A votação da PEC, que ainda deve passar pela Câmara dos Deputados, ocorreu a cerca de 100 dias das eleições gerais de outubro e é apontada por críticos como eleitoreira. A proposta --chamada por alguns participantes do mercado como "PEC das bondades" ou "PEC Kamikaze"-- também é vista como fiscalmente danosa, já que prevê despesas fora do teto de gastos.

"Os rumos da situação fiscal no Brasil, adicionados ao cenário internacional mais desafiador, têm mantido o dólar mais alto, a curva de juros pressionada e a bolsa com dinâmica negativa", escreveu Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG.

Às 11:07 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,89%, a 5,3298 reais na venda. No pico do dia, a moeda norte-americana saltou 1,97%, a 5,3340 reais, nível que, se mantido até o fim dos negócios, configuraria a maior cotação para um encerramento desde 28 de janeiro deste ano (5,3915).

Com a performance desta sexta-feira, o dólar caminhava para registrar uma quinta semana consecutiva de ganhos, o que igualaria sequência registrada pela última vez em 8 de outubro de 2021.

Sinal do clima doméstico arisco, uma medida do risco-país estava perto dos maiores patamares desde maio de 2020, enquanto a volatilidade implícita do real para os próximos três meses foi na véspera ao maior nível desde outubro de 2020.

Na B3 (BVMF:B3SA3), às 11:07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,42%, a 5,3710 reais.

Além de refletir ambiente doméstico turbulento, a alta do dólar acompanhava a forte valorização do índice da moeda dos Estados Unidos contra uma cesta de rivais fortes, que se aproximava dos maiores níveis em duas décadas nesta sexta-feira em meio a receios generalizados de recessão.

Ao mesmo tempo, a maioria das divisas arriscadas ou ligadas às commodities tinha forte baixa, com peso chileno, dólar australiano e florim húngaro dividindo com o real a posição de pior desempenho global no dia.

Com a perspectiva de que o Federal Reserve, banco central dos EUA, siga com posicionamento agressivo no combate à inflação, investidores vendiam ações e buscavam a segurança do dólar e da dívida soberana dos Estados Unidos, cujos rendimentos caíam acentuadamente diante da grande demanda por Treasuries.

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"Os próximos meses serão marcados por um Fed que deve subir os juros de forma mais intensa para ancorar as expectativas de inflação, mesmo com efeitos negativos para o crescimento", disse a equipe de macro e estratégia do BTG Pactual (BVMF:BPAC11) em relatório, citando impacto negativo desse cenário sobre moedas emergentes.

"Esse vetor já nos motivava uma menor exposição ao risco e volatilidade nos últimos meses, guiando as estratégias neste início de trimestre."