Reuters
Publicado 20.08.2020 09:16
Atualizado 20.08.2020 10:40
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava contra o real nesta quinta-feira, chegando a superar a marca de 5,65 reais em meio a pessimismo dos investidores sobre a saúde fiscal do Brasil, principalmente depois que o Senado derrubou o veto que impede reajuste salarial de servidores.
Às 10:29, o dólar avançava 1,95%, a 5,6389 reais na venda. Na máxima do dia, a divisa saltou mais de 2%, a 5,6544 reais, maior patamar intradiário desde 21 de maio.
O principal contrato de dólar futuro subia 1,56%, a 5,647 reais.
O Senado derrubou na quarta-feira veto presidencial a projeto sobre reajuste salarial a categorias do serviço público durante a pandemia de Covid-19, medida que foi chamada de "péssimo sinal" pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
A proibição da concessão de aumentos havia sido estabelecida pelo governo como contrapartida ao auxílio federal de 60 bilhões de reais repassado a Estados e municípios para o enfrentamento da crise do coronavírus. A derrubada do veto ainda terá de passar por votação na Câmara dos Deputados.
"O clima está bem pesado", disse à Reuters Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos. "Essa derrota ontem no Senado foi inacreditável. O principal risco do Brasil é o fiscal, e em meio a conversas sobre extensão do auxílio emergencial, isso vai continuar prejudicando as contas públicas."
"Se realmente a Câmara confirmar a derrubada desse veto, não acharia estranho ver o dólar voltar a buscar os 5,80 reais", completou, acrescentando que a confiança em Paulo Guedes é um fator que tem amparado a moeda brasileira.
A disparada do dólar acontece em meio a um cenário de incertezas políticas, depois que boatos sobre uma possível demissão do ministro da Economia abalaram os mercados.
Ainda que tanto Guedes quanto o presidente Jair Bolsonaro tenham desmentido os rumores, afirmando que seguirão juntos na administração e que o teto de gastos será respeitado, a cautela permanecia, principalmente no contexto da grave crise sanitária e econômica causada pela pandemia de Covid-19.
"Grosseiramente, poderíamos afirmar que 'está caindo a ficha', e, então, se constata que grande parte das projeções e perspectivas precipitadamente assumidas para construção de ambiente otimista não têm sustentabilidade, e que o país pode estar simplesmente insinuando o 'voo da galinha', disse em nota Sidnei Moura Nehme (leia mais aqui), diretor-executivo da NGO Corretora.
"O dólar é o fator que demonstra mais imediatamente os reflexos de preocupação com o agravamento da questão fiscal e, assim, na medida em que aumenta a percepção de risco, repercute no seu preço e se descola do comportamento externo da moeda americana", completou.
Nesta quinta-feira, dentro de uma cesta de mais de 30 moedas de todo o mundo, o real registrava o pior desempenho em relação ao dólar. A moeda norte-americana operava em alta contra uma cesta de pares fortes.
Segundo Victor Beyruti, há expectativa de mais intervenções do BC diante do comportamento exagerado do real quando comparado a outras divisas emergentes. "O BC muito provavelmente deve anunciar intervenção, e o mercado vai precisar de mais proteção. O Banco Central tem tentado conter essa volatilidade devido às expectativas e pânico", mas não consegue, sozinho, levar o dólar de volta a um patamar mais baixo, comentou.
Nesta quinta-feira, o Banco Central fará leilão de swap tradicional de até 10 mil contratos com vencimento em março e setembro de 2021.
O dólar negociado no mercado interbancário fechou a última sessão em alta de 1,14%, a 5,5309 reais na venda, maior patamar desde 22 de maio.
Escrito por: Reuters
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