Dólar inicia maio em disparada contra real com tensões EUA-China e pressões políticas domésticas

Reuters

Publicado 04.05.2020 09:20

Atualizado 04.05.2020 10:25

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar iniciou o mês de maio em disparada contra o real, chegando a superar 5,61 reais nesta segunda-feira, em meio a temores sobre um retorno da guerra comercial entre Estados Unidos e China e tensões políticas internas.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou na semana passada que seu árduo acordo comercial com a China agora é de importância secundária diante da pandemia de coronavírus, e ameaçou novas tarifas sobre Pequim à medida que seu governo elabora medidas de retaliação diante da crise de saúde.

Em outro desdobramento tenso na retórica entre as duas maiores economias do mundo, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse no domingo que há "quantidade significativa de evidências" de que o coronavírus surgiu em um laboratório chinês.

"A intensificação dessas tensões (entre EUA e China) ocorre em um cenário no qual prevalecem as preocupações em relação ao PIB global", disse o Bradesco (SA:BBDC4) em boletim diário. "Assim, o dólar se fortalece, ao passo que os mercados acionários operam em queda e os contratos futuros de petróleo voltam a recuar."

Às 10:21, o dólar avançava 2,98%, a 5,5998 reais na venda. Na máxima do dia, alcançada logo após a abertura, o dólar tocou 5,6152 reais na venda, alta de 3,25%.

Na B3, o principal contrato de dólar futuro tinha alta de 2,02%, a 5,6065 reais.

LEIA MAIS: Tensões políticas e econômicas internas e externas podem levar dólar a recorde!

Enquanto isso, o ambiente político doméstico continua desfavorável para os ativos locais, disse à Reuters Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho.

"Bolsonaro segue apoiando manifestações contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, estressando ainda mais as relações entre os poderes. Isso pode agregar à pressão de baixa sobre o real."

No domingo, após fazer aparição de quase uma hora na rampa do Palácio do Planalto para centenas de pessoas que se manifestavam a favor do seu governo e contra o STF e o presidente da Câmara, o presidente Jair Bolsonaro disse que a Constituição será cumprida no país "a qualquer preço" e que o governo tem o povo e as Forças Armadas ao seu lado.

As declarações ocorreram após o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes suspender a nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, em decisão liminar, citando possível comprometimento do indicado, que tem relação de amizade com a família de Bolsonaro.

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Nesta segunda-feira, o presidente nomeou ao cargo Rolando Alexandre de Souza, braço direito de Ramagem.

Segundo levantamento feito por Rostagno, "77% da variação da queda do real (em abril) veio de fatores domésticos". "Isso mostra o quanto esse ambiente político turbulento está afetando a moeda brasileira."