Dólar supera R$5,20 com tensão entre governo e BC, receios fiscais e cautela externa

Reuters

Publicado 06.02.2023 14:48

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava acentuadamente e operava acima de 5,20 reais nesta segunda-feira, com novas tensões entre governo e Banco Central e a possível intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ampliar a isenção do Imposto de Renda afastando investidores do risco, em meio ainda a temores sobre a trajetória de aperto monetário do Federal Reserve.

Por volta de 14h42 (de Brasília), a moeda norte-americana à vista subia 1,28%, a 5,2108 reais na venda, rondando os maiores níveis do dia.

Segundo Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora, a valorização do dólar vinha em linha com o fortalecimento da divisa no exterior frente à maioria de seus pares, diante da redução de esperanças de que o banco central dos EUA poderia encerrar seu atual ciclo de aperto monetário com juros abaixo de 5%.

No entanto, disse Rugik, investidores também se mostraram desconfortáveis com a aparente tensão entre o governo e o Banco Central, depois que Lula classificou nesta segunda-feira de "vergonha" a explicação do Comitê de Política Monetária (Copom) para o atual patamar da taxa de juros e pediu que a classe empresarial e a sociedade reclamem do nível da taxa Selic.

Lula e membros de sua administração têm criticado de forma recorrente a taxa de juros elevada, atualmente em 13,75%, e a independência do BC. Uma Selic alta beneficia o real ao torná-lo atraente para estratégias de investimento que lucram com diferenciais de juros entre economias, mas tende a restringir a atividade econômica, o que joga contra a agenda desenvolvimentista do governo.

A pauta fiscal também colaborava para a cautela no mercado doméstico nesta segunda-feira, depois de duas fontes terem dito no sábado que o governo Lula estuda aumentar a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos este ano.