Dólar supera R$5,25 e marca 4° avanço semanal seguido com temor fiscal doméstico

Reuters

Publicado 24.06.2022 17:11

Atualizado 24.06.2022 17:35

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançou contra o real nesta sexta-feira e marcou uma quarta semana consecutiva de ganhos, com ruídos fiscais domésticos impedindo o mercado de câmbio local de aproveitar uma recuperação de ativos arriscados no exterior.

A moeda norte-americana fechou em alta de 0,43%, a 5,2518 reais, maior nível desde 8 de fevereiro deste ano (5,2604), depois de trocar de sinal várias vezes ao longo da sessão, indo de 5,2033 reais na mínima (-0,49%) a 5,2770 reais na máxima do dia (+0,92%).

Em relação ao fechamento da última sexta-feira, o dólar avançou 2,06%, marcando a quarta semana seguida de valorização, maior sequência do tipo desde os cinco avanços semanais consecutivos completados em 8 de outubro do ano passado, acumulando salto de 10,83% no período.

Na B3 (SA:B3SA3), às 17:13 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,28%, a 5,2670 reais.

Investidores mostraram neste pregão forte preocupação com a discussão de medidas do governo para compensar a alta dos preços dos combustíveis, que, por arriscarem levar a um aumento de gastos fora da regra do teto, poderiam agravar a credibilidade fiscal do Brasil.

O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), relator da chamada PEC dos Combustíveis, afirmou que a ampliação do Auxílio Brasil de 400 para 600 reais está sendo negociada para ser incluída em seu relatório da Proposta de Emenda à Constituição, que deve ser apresentado na próxima segunda-feira.

Também estão em discussões no Congresso medidas para ampliação do valor do vale-gás a famílias e a criação de um auxílio de 1 mil reais por mês para o abastecimento de diesel de transportadores autônomos, que pretende atender 900 mil caminhoneiros até o fim do ano.

"Estão tentando colocar a maior quantidade possível de 'bondades' nessa PEC, medidas para tentar aumentar a popularidade do governo nos próximos meses antes das eleições", disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

"Uma vez concedidos os benefícios é difícil tirar depois", o que erode a credibilidade fiscal do Brasil e tem impacto direto na moeda local. "O câmbio é termômetro da confiança no país", disse Cruz.

Investidores também reagiram nesta sexta-feira à notícia de que o IPCA-15 acelerou a alta para 0,69% em junho, leitura acima da expectativa apontada em pesquisa da Reuters de avanço de 0,62%.

As taxas dos principais contratos de DI subiram acentuadamente no dia na esteira dos dados, que impulsionaram para 75% a probabilidade implícita de um aperto de 0,50 ponto percentual na taxa Selic pelo Banco Central em sua próxima reunião de política monetária, em agosto. Há apenas poucos dias, o mercado estava igualmente dividido entre alta de 0,50 ponto e ajuste mais moderado, de 0,25 ponto.

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De um lado, a perspectiva de juros mais altos pode favorecer o real, já que implica uma maior rentabilidade da moeda local. Por outro, se a inflação elevada forçar o BC a manter a Selic em níveis restritivos por muito tempo, a atividade econômica --que também tem importância na precificação da taxa de câmbio-- será prejudicada, avaliou Cruz.

No exterior, as perspectivas continuavam sombrias, apesar de ampla valorização de vários ativos considerados arriscados nesta sexta-feira, movimento que Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, caracterizou como "mais um movimento de ajuste do que um otimismo em relação ao cenário global".