Dólar supera R$5,28 e bate máxima desde maio com incerteza doméstica e tensão externa

Reuters

Publicado 16.08.2021 17:53

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou acima de 5,28 reais nesta segunda-feira, no maior patamar desde maio, pressionado pela força da moeda norte-americana no exterior e pelo recorrente clima de instabilidade político-fiscal no plano doméstico.

O dólar à vista subiu 0,67%, a 5,2812 reais, maior nível desde 26 de maio (5,3127 reais).

A cotação bateu a máxima do dia (5,298 reais, alta de 0,99%) ainda no começo do pregão, mas passou gradualmente a perder força até pouco antes das 12h ir à mínima intradiária (5,2292 reais, queda de 0,32%). Posteriormente, recuperou em ritmo modesto algum terreno, mas duas arrancadas entre 15h20 e 17h recolocaram a moeda perto dos níveis mais altos do dia.

A expectativa pela votação do texto que muda as regras do Imposto de Renda, tensões entre Poderes e renovadas pressões sobre valores para o Bolsa Família seguiram pesando sobre o sentimento doméstico. Em todas essas frentes o mercado teme que haja prejuízo aos cofres públicos e/ou travamento da agenda reformista, com riscos de ações do governo mais enviesadas para o populismo.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender mudanças nas regras para pagamento de precatórios, o que parte do mercado vê como uma pedalada fiscal.

Mas o ambiente externo também pesou nesta segunda.

Lá fora, o índice do dólar frente a uma cesta de moedas fortes tinha ligeira alta de 0,09%, mas mostrava ganhos mais expressivos contra divisas correlacionadas a matérias-primas, caso do real.

Peso chileno (-1,5%), rand sul-africano (-0,7%) e dólar australiano (-0,5%) estavam entre os piores desempenhos globais. Todas essas divisas vendem insumos cujo principal importador é a China, que voltou a assustar os mercados após dados mais fracos que o esperado divulgados entre o domingo e esta segunda-feira.

As commodities caíam 0,5% no fim da tarde. O declínio das matérias-primas pressiona uma medida chamada termos de troca (relação entre preços de exportações e importações). Os termos de troca vinham em forte alta no Brasil com o rali desses produtos no mercado internacional, o que contribuiu para avaliações melhores para a moeda brasileira.

Algum conservadorismo antes da divulgação na quarta-feira da ata da última reunião de política monetária do banco central dos EUA e por receios de que a crise no Afeganistão gere ondas de choques na geopolítica também ditou demanda por ativos seguros, caso do dólar.