Reuters
Publicado 25.08.2020 09:16
Atualizado 25.08.2020 10:40
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar apresentava queda contra o real nesta terça-feira, refletindo a melhora do ânimo global diante de sinais de progresso nas relações entre Estados Unidos e China, que se somavam ao otimismo sobre a busca de um tratamento para a Covid-19.
Ainda assim, vários analistas citavam a permanência das preocupações sobre a situação fiscal do Brasil, o que pode trazer volatilidade para a sessão.
Às 10:21, o dólar recuava 0,12%, a 5,5877 reais na venda, enquanto o dólar futuro negociado na B3 tinha queda de 0,45%, a 5,588 reais.
Depois de vários conflitos diplomáticos entre as duas maiores economias do mundo nos últimos meses, autoridades comerciais dos Estados Unidos e da China reafirmaram seu compromisso com a Fase 1 do acordo comercial alcançado no início do ano, tranquilizando investidores de todo o mundo nesta terça-feira.
A promessa foi feita em um telefonema entre o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer; o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin; e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, no primeiro diálogo formal entre eles desde o início de maio.
"As conversas entre Estados Unidos e China sobre o acordo parecem ter sido construtivas, apesar de não trazerem nada de novo, e isso está ajudando a trazer otimismo aos mercados, assim como dados bons da Alemanha", disse à Reuters Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho.
Números desta terça-feira mostraram que a economia da Alemanha teve contração econômica menor do que a projetada inicialmente, enquanto segue no caminho de uma recuperação diante da melhora da confiança empresarial.
Além disso, notícias sobre progressos na busca de um tratamento para a Covid-19 -- que impulsionaram vários mercados internacionais na véspera -- seguem no radar dos investidores, principalmente depois que o principal órgão regulador de saúde dos EUA permitiu o uso de plasma sanguíneo em pacientes da doença.
No exterior, diante desse contexto, moedas arriscadas pares do real -- como peso mexicano, rand sul-africano e dólar australiano -- operavam em alta contra o dólar, que também perdia terreno ante uma cesta de divisas fortes.
Enquanto isso, no Brasil, o foco continuava na situação das contas públicas, em meio a temores de que os gastos extraordinários provocados pela pandemia prejudiquem a agenda de austeridade promovida pelo governo de Jair Bolsonaro.
"Preocupações em relação ao fiscal fizeram a moeda perder força ao longo do dia ontem", comentou Rostagno. "Internamente, a gente tem expectativa sobre medidas fiscais que o governo deve anunciar em breve desvinculando gastos obrigatórios e também buscando colocar gatilhos pra inibir o crescimento dos gastos", o que, caso se confirme, pode trazer tranquilidade aos mercados locais, acrescentou.
A expectativa era de o governo realizasse nesta terça-feira uma cerimônia para anúncio do Pró-Brasil, um plano para a retomada econômica do país no pós-pandemia, mas o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou na segunda-feira à Reuters que o governo decidiu adiar o anúncio.
Na véspera, o dólar negociado no mercado interbancário teve queda de 0,22%, a 5,5942 reais na venda.
O Banco Central fará neste pregão leilão de swap tradicional para rolagem de até 12 mil contratos com vencimento em março e julho de 2021.
Na semana passada, a autarquia marcou presença nos mercados de câmbio, inclusive com a venda de moeda à vista, movimento que foi visto como essencial por muitos analistas diante da divergência entre o movimento do real e seus pares internacionais.
"Devemos continuar com o BC vigilante, já que uma nova rodada de desvalorização do real pode prejudicar a economia e afetar a saúde das empresas, que há tempo convivem com uma moeda volátil e desvalorizada, sem espaço pra repassar esse movimento cambial para os preços, consequentemente afetando a economia mais ampla", observou Rostagno.
Escrito por: Reuters
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