Dólar volta a cair com ajuste a exterior; cenário eleitoral ganha mais peso

Reuters

Publicado 20.01.2022 18:04

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar voltou a mostrar expressiva queda nesta quinta-feira, chegando a romper a linha dos 5,40 reais, em meio a um novo rali de moedas de risco patrocinado por otimismo sobre a China e acomodação nas taxas de juros nos EUA, enquanto o mercado local aproveitou para seguir desmontando posições contra a divisa brasileira atento ao cenário político.

O dólar à vista caiu 0,92%, a 5,4172 reais, menor valor para um fechamento desde 11 de novembro do ano passado (5,4031 reais). No piso do dia, a cotação foi a 5,3813 reais, recuo de 1,57%.

É o segundo dia seguido de forte queda do dólar. Na véspera, a cotação já havia perdido 1,68%, a 5,4673 reais, quebrando, assim, o suporte técnico representado por sua média móvel linear de 100 dias.

Na B3 (SA:B3SA3), às 17:42 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,11%, a 5,4485 reais. Na mínima, o dólar futuro desceu a 5,3905 reais, menor patamar intradiário desde 1º de outubro passado.

A queda do dólar futuro é menor do que no à vista porque na quarta-feira a cotação na B3 já havia recuado mais que a taxa spot, que nesta quinta ampliou as perdas. O dólar futuro caiu 2,28% na quarta, contra declínio de 1,68% na moeda no interbancário.

Na véspera, quando o dólar à vista registrou a maior baixa percentual diária desde o fim de dezembro, os não residentes se desfizeram, em termos líquidos, de 611 milhões de dólares entre contratos de dólar futuro, cupom cambial e swap cambial, conforme dados da B3, perto da metade da venda líquida de 1,463 bilhão de dólares no ano até quarta-feira (dado mais recente).

Moedas pares do real, como rand sul-africano, peso chileno e peso colombiano, apreciavam até 0,8% ante o dólar, com perspectiva de mais demanda da China por matérias-primas após a segunda maior economia do mundo voltar a cortar taxas de juros para aquecer a atividade. A China é o principal parceiro comercial do Brasil.

Ajudou ainda a estabilização das taxas dos títulos do Tesouro dos EUA, cujo rali nos últimos dias levou agentes financeiros a fugir de ativos de risco, como o real.

À tarde, o mercado acompanhou ainda declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que o Bacen atuará no mercado cambial em caso de "desconexão", em referência a preços e fundamentos. As falas tiveram impacto limitado nos preços da taxa de câmbio.

A tônica do ajuste a excessos nos preços do dólar prosseguiu, mas analistas ainda preveem um ano conturbado para o câmbio.

"O amplo intervalo no qual a taxa de câmbio flutuou no início de 2022 reforça nossa visão de que a moeda deverá seguir trajetória volátil neste ano", disse o Santander Brasil (SA:SANB11) em relatório de cenário macro.

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"Ademais, seguimos avaliando que o real irá se desvalorizar ao longo de 2022, já que as incertezas quanto à trajetória de longo prazo da dívida pública e as decisões de política econômica para tratar do problema fiscal deverão permanecer elevadas", completou.

O Santander projeta dólar de 5,70 reais ao fim de 2022, 5,22% acima do patamar atual. Estima, porém, apreciação do real a 5,20 por dólar ao término de 2023, "assumindo sinais positivos no quarto trimestre de 2022 sobre um provável retorno de negociações para reformas macroeconômicas no ano seguinte".