Baixo apetite por LFTs não acendeu alarme prudencial, indica Campos Neto

Reuters

Publicado 24.09.2020 12:38

Atualizado 24.09.2020 15:55

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta quinta-feira que não há um desequilíbrio da indústria de investimento em curso em meio à baixa procura por LFTs, títulos atrelados à variação da Selic que têm sido pouco demandados com a taxa básica de juros no patamar de 2% ao ano.

Questionado sobre o movimento em coletiva de imprensa, Campos Neto afirmou que o BC vê uma relação entre a LFT e a LTN, papel prefixado que o Tesouro tem emitido em volumes maiores para financiar o aumento das despesas em meio à crise do coronavírus.

Como os juros reais para os detentores de LFTs caíram muito na esteira do afrouxamento monetário, esses papéis, muito utilizados por fundos de renda fixa, perderam atratividade e as emissões do Tesouro têm se concentrado em LTNs de curto prazo.

O encurtamento da dívida, resumiu Campos Neto, é o preço que está sendo pago pelo país por um fiscal um pouco mais desarrumado.

"Nós entendemos que esse é um tema de rolagem de dívida. Ele vai ter uma implicação prudencial se ele desequilibrar a indústria de investimento ou alguma coisa nesse sentido. O que nós entendemos agora é que não é esse o processo que está em curso", afirmou.

"O que está em curso agora é um processo onde o mercado está pedindo mais prêmio para rolar a dívida do governo", acrescentou ele.

O presidente do BC avaliou que a inclinação recente da curva de juros decorre de preocupações com a sustentabilidade fiscal e, mais especificamente, com qual será a política de saída dos estímulos dados durante a pandemia.

"Nós entendemos que uma coisa está ligada à outra. Não é um fenômeno de expectativa de inflação", afirmou.

Perguntado se o BC poderia utilizar a prerrogativa de comprar títulos públicos para achatar essa inclinação --possibilidade aberta pela emenda constitucional do Orçamento de Guerra--, ele reiterou a visão de que a eventual compra seria para estabilizar o mercado em situação de disfuncionalidade, não sendo um instrumento de política monetária.

"Entendemos que existem outros instrumentos ainda a serem usados em política monetária", disse.

Segundo Campos Neto, não é possível prever qual será o gatilho para a intervenção via compra de títulos públicos, sendo que o BC faz esse acompanhamento no dia a dia.

PREOCUPAÇÕES PRUDENCIAIS

Depois de ter mantido a taxa básica de juros inalterada na semana passada, o BC seguiu apontando a necessidade de cautela na condução de política monetária por razões prudenciais, mas não fez atualizações sobre sua leitura, deixando agentes do mercado em busca de pistas sobre sua percepção, principalmente diante da pressão recente sobre o mercado de dívida.

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"Da mesma forma como nós não temos como delinear qual é o cenário ideal, nós também não temos como delinear o que que pode acontecer no prudencial", afirmou Campos Neto, após ser questionado sobre qual seria a maior preocupação prudencial da autoridade monetária hoje.

"A gente também não diz que o prudencial inibe (ação de política monetária), a gente diz que o prudencial recomenda cautela", complementou.

O BC vem reforçando em suas comunicações que o espaço para reduzir ainda mais os juros, se existente, deve ser pequeno -- o que repetiu nesta quinta-feira em seu Relatório Trimestral de Inflação.

O BC também reiterou que, apesar de uma assimetria em seu balanço de riscos para a inflação para o lado altista, não pretende subir a Selic a menos que o cenário para o avanço de preços na economia ou o regime fiscal sejam modificados.

Campos Neto reconheceu que, com a queda da Selic, há implicações para o funding da indústria financeira, para a forma como os investidores agem e para a distribuição dos recursos entre as modalidades de investimento, citando a grande migração recente para a poupança.