Instituições financeiras elevam projeções para dólar com insegurança fiscal

Reuters

Publicado 25.10.2021 08:18

Atualizado 25.10.2021 10:10

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O vendaval no noticiário político-fiscal doméstico na semana passada já provocou revisões para cima nas estimativas para o dólar ante o real, num momento em que a moeda norte-americana mostra força no exterior por expectativas de menor liquidez conforme o banco central norte-americano se prepara para reduzir estímulos.

A XP promoveu forte alta em seus cálculos, vendo agora cotação de 5,70 reais ao fim deste ano e de 2022, ante taxas anteriores de 5,20 reais e 5,10 reais, respectivamente, argumentando que o que se tem visto é "uma mudança de regime na condução da política fiscal, e não 'apenas' uma piora na margem".

O dólar interbancário não fecha no nível de pelo menos 5,70 reais desde 13 de abril passado, quando encerrou em 5,7175 reais.

"Apesar das mesmas projeções para o final deste e do próximo ano, acreditamos que a taxa de câmbio apresentará muita volatilidade, especialmente com a aproximação das eleições", disse em nota do fim da sexta-feira Caio Megale, economista-chefe da XP.

O cenário de maior cautela acerca do câmbio foi consolidado nesta segunda pela pesquisa Focus do Banco Central, em que o prognóstico de economistas e outros profissionais do mercado para o dólar pulou a 5,45 reais para o fim deste ano e do próximo, ante 5,25 reais da previsão anterior para ambos os períodos. O mercado elevou ainda os números para juros e inflação e baixou os para o crescimento econômico.

O Credit Suisse (SIX:CSGN) passou a ver taxa de câmbio de 5,50 por dólar ao fim de 2021 e 2022 --antes, o banco calculava dólar de 5,20 reais para ambos os períodos.

A piora de cenário pela instituição suíça veio na esteira de forte reação negativa dos mercados financeiros na semana passada à proposta do governo de romper o teto de gastos, o que levou o dólar futuro a superar os 5,76 reais no pior momento da sexta-feira.

Na mesma toada, a Necton Investimentos passou a ver cotação de 5,55 reais ao fim deste ano, acima da taxa de 5,40 reais prevista anteriormente.

O Santander Brasil (SA:SANB11) ajustou na última quinta-feira sua estimativa para a taxa cambial, vendo dólar de 5,35 reais ao fim deste ano, acima do patamar de 5,25 reais da projeção anterior. O banco manteve o prognóstico de 5,55 reais para a conclusão de 2022.

"Com os ventos do exterior mudando de direção, riscos idiossincráticos continuam a pressionar os prêmios de risco e os preços dos ativos domésticos. Além de um aumento do risco global, incertezas persistem internamente no âmbito fiscal e no nível político-institucional, com a proximidade das eleições presidenciais", disse a economista-chefe do banco, Ana Paula Vescovi, e seu time econômico em relatório.

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Em relatório divulgado no término da semana passada, o Morgan Stanley (NYSE:MS) foi curto e direto: "Fiquem vendidos em real". Para estrategistas da instituição, um Banco Central mais duro na política monetária não seria suficiente para reverter a direção de alta do dólar contra o real neste momento.

"Notamos que as manchetes recentes apontam mais ruído fiscal à frente, como detalhes em torno da implementação do programa Auxílio Brasil a serem acertados entre governo e Congresso", afirmaram os profissionais no documento.

O Morgan recomenda posição em "knock-out calls" em opções de dólar/real para três meses ATMF (no dinheiro, ou seja, com preço do ativo-objeto igual ou muito próximo ao do exercício).

"Knock-out calls" envolvem uma estratégia de opção com barreiras --no caso, de 5,90 reais por dólar. Na prática, a recomendação indica percepção de que o dólar pode se aproximar desse patamar.

"É uma aposta com custo atraente numa trajetória de baixa do real nas próximas semanas", disseram os profissionais do Morgan.