Mercado dá pausa após quedas recentes do dólar, de olho em Brasília

Reuters

Publicado 04.09.2020 17:06

Atualizado 04.09.2020 23:57

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de câmbio doméstico deu uma pausa depois de três quedas seguidas do dólar, e a moeda norte-americana fechou esta sexta-feira em leve alta, com ajuste técnico amparado por mais um dia negativo no exterior e por alguns ruídos políticos em Brasília.

Os feriados de 7 de Setembro no Brasil e do Dia do Trabalhador nos EUA, ambos na próxima segunda-feira, também estimularam alguma posição mais defensiva.

Ainda assim, o dólar completou a segunda semana consecutiva de baixa, sequência não vista em três meses.

O dólar à vista subiu 0,33% nesta sexta, a 5,3081 reais na venda. A cotação até chegou a esboçar um quarto dia de baixas ao cair 0,81% na mínima, a 5,2475 reais, ainda na primeira hora de negócios. Desde então, porém, tomou fôlego, chegando a subir 0,73% na máxima, a 5,329 reais.

Na semana, a moeda ainda caiu 1,99%. A cotação perde 3,15% em setembro, mas dispara 32,28% em 2020.

O dólar vinha de queda de 3,47% nas três sessões entre terça e quinta.

Depois de uma semana de descompressão de risco na cena política, após envio pelo governo ao Congresso do texto da reforma administrativa, o mercado analisou nesta sexta notícias sobre aparentes problemas de relacionamento entre integrantes do Congresso e do Executivo.

O presidente Jair Bolsonaro assinou despacho nesta sexta-feira que cancela urgência pedida previamente para a tramitação da reforma tributária enviada ao Congresso em julho, um dia após novas rusgas entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), virem a público.

O sentimento do mercado doméstico melhorou recentemente com a percepção de que o governo recuou de uma abordagem mais populista, mas alguns analistas ainda demonstram receio sobre os próximos passos.

"Ainda que o compromisso com o respeito ao teto (de gastos) tenha retornado aos discursos oficiais, consideramos que o tema ainda não está totalmente pacificado e seu desfecho permanece condicionado à velocidade de recuperação da economia, em especial do mercado de trabalho", disse a gestora Opportunity em carta mensal, avaliando que o maior risco à política fiscal seria a extensão do período de calamidade pública para 2021, o que, segundo a casa, abriria espaço para contornar regras de controle fiscal.

Ainda nesta sexta, investidores reagiram com cautela a afirmação do presidente Bolsonaro de que irá dar "canetadas", no contexto em que ele afirmou estar conversando com intermediários e com representantes de grandes redes de supermercados para tentar evitar uma alta maior nos produtos da cesta básica.