Mercado vende dólares à espera de Copom mais duro

Reuters

Publicado 05.05.2021 17:09

Atualizado 05.05.2021 17:25

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar sofreu firme queda nesta quarta-feira, o que levou o real ao topo dos ganhos entre as principais moedas. O movimento refletiu posicionamento do mercado em prol de um Banco Central mais duro com a inflação quando anunciar em breve sua decisão de política monetária, o que pode sinalizar um juro terminal mais alto que eleve a atratividade da moeda brasileira.

O dólar à vista caiu 1,23%, a 5,3652 reais na venda, depois de tocar 5,3552 reais (-1,42%) na mínima atingida à tarde. A máxima foi de 5,442 reais (+0,18%), alcançada ainda na primeira hora de negócios.

Investidores também expressaram visão de um BC mais ortodoxo sobre a inflação no mercado de juros, em que taxas de curto prazo subiram --indicando expectativa de Selic mais alta-- enquanto as de vértices mais longos caíram. Isso causou a redução da inclinação da curva, um clássico quando se fala em BC "hawkish" (duro com a inflação).

"À luz dos dados recentes, esperamos que o comitê modifique sua comunicação, não mais descrevendo o atual processo de ajuste monetário como parcial", disse o Itaú Unibanco (SA:ITUB4), em referência a números de atividade econômica, balanço de riscos, projeções e expectativas de inflação.

A Selic está em 2,75% ao ano e deve ser elevada em 0,75 ponto percentual na noite desta quarta-feira, para 3,50%. E o processo de ajuste monetário vai continuar.

"Com a Selic chegando a 4% em junho, já ficaria acima da taxa básica de alguns países pares do Brasil e em linha com a do México. Como a perspectiva é de continuidade do ciclo, isso já ajuda o real", disse Sérgio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights.

Contratos futuros de real já embutem taxa de juros perto de 4,5%, muito similar ao retorno atrelado a derivativos de igual vencimento para o peso mexicano, apesar de o juro básico mexicano (4%) ser consideravelmente maior que o brasileiro.

André Nogueira Fontenelle, responsável pelos fundos multimercados macro da Bradesco Asset Management (Bram), acredita que o status do real como financiador de operações de arbitragem com taxas de juros acabou.

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Essa condição, causada pelo juro baixo, transformou a moeda brasileira em alvo fácil de operações de "hedge" para aplicações em outros mercados --estratégia que, por representar venda de reais (compra de dólar), intensificou a pressão sobre a taxa de câmbio.

h2 RUÍDO POLÍTICO-FISCAL/h2

O real recuperou perdas em abril, mas ainda cai 3,24% em 2021, o que se soma à perda de quase 23% no ano passado. Analistas dizem que a combinação entre juro real negativo e deterioração fiscal nocautearam a moeda brasileira. Enquanto o lado da política monetária parece encaminhado, riscos político-fiscais ainda ditam uma visão conservadora sobre o câmbio por parte de investidores estrangeiros.

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"Investigações sobre a gestão da pandemia pelo governo provavelmente só aumentarão o ruído político e têm o potencial de adiar a aprovação das reformas necessárias e diluir notícias positivas relacionadas a privatizações", disse em relatório Bertrand Delgado, estrategista para mercados emergentes do Société Générale (PA:SOGN).

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