Peso argentino despenca com queda em chances de reeleição de Macri

Reuters

Publicado 12.08.2019 18:34

Por Cassandra Garrison e Hugh Bronstein

BUENOS AIRES (Reuters) - As ações e a moeda da Argentina despencaram 30% nesta segunda-feira, com temores de um possível retorno às políticas intervencionistas, depois que o ortodoxo presidente Mauricio Macri perdeu por uma margem muito maior do que a esperada para a oposição nas primárias presidenciais.

O peso recuperou parte das perdas, negociado a 52,15 por dólar, depois de ter caído para uma mínima histórica de 61,99 por dólar. O banco central vendeu 50 milhões de dólares de suas próprias reservas para defender a taxa de câmbio.

O principal índice de ações do país registrou a maior queda de sua história, com todos os componentes no vermelho, enquanto o custo de proteção contra um calote da dívida soberana da Argentina disparou quase 1.000 pontos-base.

Desafiando expectativas, o candidato de oposição Alberto Fernández --cuja companheira de chapa é a ex-presidente Cristina Kirchner-- dominou as primárias com uma margem maior do que a esperada, de 15,5 pontos percentuais, comprometendo as chances de reeleição de Macri.

Fernández disse que buscará "retrabalhar" o acordo do tipo standby de 57 bilhões de dólares da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI) se vencer a eleição geral de outubro.

A preocupação do mercado é que haja descontinuidade da atual política e volta do intervencionismo, conforme experimentado anteriormente pelo governo de Kirchner.

A vitória dos peronistas Fernández e Kirchner "abre caminho para o retorno do populismo de esquerda que muitos investidores temem", disse a consultoria Capital Economics em nota.

"O que não está claro é exatamente como Fernández e Kirchner pretendem conduzir a política econômica se chegarem ao poder", disse Alejo Czerwonko, estrategista de mercados emergentes da UBS Global Wealth Management.

As preocupações continuam altas e têm a ver com questões como a composição da equipe econômica --quem vai supervisionar seu desenho e implementação, qual a relação que o novo governo terá com o FMI, entre outros, disse Czerwonko.

Embora os ativos argentinos devam permanecer pressionados no futuro próximo, Czerwonko, da UBS, concorda com alguns analistas segundo os quais o medo de contágio a outros mercados latino-americanos e mercados emergentes ainda é baixo, já que os problemas da Argentina são "autoinfligidos e muito idiossincráticos".

De acordo com Win Thin, chefe global de estratégia cambial da Brown Brothers Harriman, em termos de negociação global o mercado cambial da Argentina não tem impacto mensurável. Ele não espera um contágio em mercados emergentes.