Real fecha pior trimestre desde o início da pandemia e encara fim de ano desafiador

Reuters

Publicado 30.09.2021 18:28

SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central deu as caras no mercado e tirou o dólar à vista de perto dos 5,50 reais, mas a moeda ainda fechou em alta e no maior patamar desde abril, registrando os maiores ganhos para setembro e para o terceiro trimestre em seis anos.

O dólar interbancário até chegou a cair mais cedo --indo a uma mínima de 5,3674 reais, queda de 1,15%--, mas ainda pela manhã começou a ganhar força, movimento que se intensificou nas negociações vespertinas conforme o mercado adicionava prêmio de risco por temores de flexibilização fiscal relacionada ao auxílio emergencial.

Assim, a divisa brasileira começou a descolar mais de seus pares, alguns dos quais tinham ganhos contra o dólar nesta quinta.

Mas o anúncio pelo BC à tarde de um leilão extraordinário de 500 milhões de dólares em swaps cambiais afastou a cotação dos picos --na máxima intradiária, o dólar spot foi a 5,4771 reais, alta de 0,87%, enquanto no mercado futuro a taxa superou 5,5000 reais.

Ainda assim, o real terminou o dia na segunda pior posição num ranking de 33 pares do dólar. Somente o peso mexicano (-0,55%) caiu mais.

"O real está apanhando de todo mundo e de todos os lados. Acho que esse leilão deveria já ter sido feito", disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital.

"Já faz tempo que o real nesse patamar é ruim para a economia... A gente está pagando o preço por ter tomado muito risco lá atrás, pela falta de confiança (no governo e no BC). Todo mundo gosta do discurso do Paulo Guedes, mas não existe confiança de que ele vai conseguir implementar o discurso", completou o gestor.

Sinal de constantes incertezas do lado da política monetária, as taxas de juros projetadas pelos contratos de DI da B3 (SA:B3SA3) voltaram a subir nesta sessão, com investidores enxergando a Selic cada vez mais próxima de 10% ao fim do ano que vem, num cenário de viés para cima na inflação, após a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC.

No mercado de câmbio, há quem tenha avaliado que com o leilão de swap desta quinta o BC atendeu apenas a um fluxo específico. Contudo, alguns viram a operação como uma forma de o Bacen "marcar território" e gerar algum desconforto aos comprados em dólar.

Isso num momento em que a inflação dispara e pode ganhar pressão adicional vinda de um renascimento do rali do petróleo no mercado externo, o que impacta diretamente a perspectiva para os já inflacionados preços dos combustíveis --que estiveram no centro de falas de importantes autoridades políticas nos últimos dias.

No fechamento desta quinta-feira, o dólar à vista subiu 0,36%, a 5,4496 reais na venda. É o nível mais alto desde 27 de abril (5,4625 reais).

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A moeda engatou o sétimo pregão de ganhos, já perto de igualar a sequência de oito altas ocorridas entre o fim de junho e início de julho.

Em setembro, o dólar avançou 5,36% --maior valorização desde janeiro passado (+5,53%) e a mais forte para o mês desde 2015 (+9,33%).

No terceiro trimestre, a moeda saltou 9,51%. É a mais intensa apreciação desde os três meses findos em março de 2020 (+29,44%), quando a pandemia de Covid-19 chacoalhou pela primeira vez os mercados globais.

Para o período de julho a setembro, a alta deste ano foi a mais veemente desde 2015 (+27,55%).

No acumulado de 2021, o dólar sobe 4,97%. E a taxa de câmbio adentra o quarto trimestre envolta num cenário visto como mais desafiador --risco fiscal no Brasil, inflação pressionada, chance de aperto da política monetária nos EUA e temores sobre o ritmo de atividade no maior parceiro comercial do Brasil, a China.