Brasil dá largada no G20 com ambição de reformas, mas pode esbarrar em conflitos globais

Reuters

Publicado 20.02.2024 12:23

Atualizado 20.02.2024 16:20

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil dá início formalmente nesta semana ao ano da cúpula do G20 no país com a intenção de chegar ao encontro de novembro com acordos para uma ampla reforma na governança global e colocar o combate à pobreza e às mudanças climáticas no centro do debate, mas a ambição brasileira pode esbarrar na falta de diálogo entre os principais atores em um período marcado por conflitos globais.

A agenda traçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência brasileira do Grupo dos 20, que congrega as 20 maiores economias do mundo, é ambiciosa e traz para a mesa uma das suas principais obsessões no atual mandato: as mudanças no sistema internacional de governança, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, entre outros.

A avaliação feita pelos negociadores brasileiros é que as primeiras respostas dos países-membros foram, até agora, positivas para a agenda brasileira. Não há discordância em discutir os temas propostos pelo Brasil. Mas é a partir de agora que cada país colocará na mesa as suas posições, que dificilmente serão convergentes em meio a conflitos internacionais e disputas comerciais que opõe as principais potências.

Ainda assim, o governo brasileiro vê o ambiente internacional conflagrado como uma oportunidade.

"É o momento de maiores crises que pede mais reforma. Sei que é mais difícil, mas ao mesmo tempo o clamor, a necessidade de avançar nesses temas, faz com que nós tenhamos que agir, porque a deterioração em termos de conflitos geopolíticos é evidente", disse o negociador brasileiro, embaixador Maurício Lyrio, em entrevista a correspondentes internacionais.

"Então se chega a um ponto que é necessário agir justamente porque a situação atingiu um grau, eu diria, de conflagração geopolítica que exige que a ONU se fortaleça. É fácil? Não é fácil. Exige muito esforço diplomático e, eu diria, muito diálogo. É preciso investir nisso e investindo creio que há como obter avanços".

Nesta semana ocorre no Rio de Janeiro o primeiro encontro da trilha de sherpas -- as negociações políticas do grupo --, quando sentarão à mesma mesa os ministros das relações exteriores dos Estados Unidos, Antony Blinken, e da Rússia, Sergei Lavrov, em meio às tensões elevadas pela guerra da Rússia com a Ucrânia. Os dois antagonistas sentarão frente a frente, mas o que não se espera é uma facilidade de acordo entre as partes, que terá de ser mediada com muito cuidado pelo Brasil.

Segundo Lyrio, há um consenso de que é necessário uma reforma na governança global, mas há divergência entre modelos e sobre o escopo do que deve ser mudado. O desenho final virá de quase um ano de negociações.

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"Estamos vivendo em um mundo sem governança e a proliferação de conflitos é recorde. Foram este último ano 183 conflitos na arena global. É um número sem precedentes nas últimas três décadas. Isso mostra que há um déficit de governança para enfrentar os desafios globais", disse o embaixador em entrevista nesta terça-feira, no Rio de Janeiro.

"Estamos apagando incêndios. Temos que adaptar o sistema internacional para agir no caso de conflitos, a ONU foi criada para isso", completou.

Na agenda, que se inicia na tarde de quarta com uma apresentação do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, a primeira sessão será dedicada justamente a falar de "tensões globais", enquanto a discussão sobre mudanças na governança será na quinta-feira.

Lyrio explicou que não se esperam resoluções nesta primeira reunião de chanceleres, e nem, necessariamente, uma declaração final para um primeiro encontro dos 20 chanceleres do grupo para sessões de fala livre. Especialmente em relação à Ucrânia, a percepção é que não devem haver manifestações.

"A tradição das reuniões ministeriais não é ter uma declaração formal, mas os chanceleres fazem um balanço final da reunião", explicou Lyrio. "A declaração não pode ser um fim em si mesma. A prioridade é discutir os temas para termos propostas para avançar."

Já sobre a Faixa de Gaza, de acordo com uma fonte, existe alguma expectativa de posições comuns, com a mudança de posição norte-americana, que apresentou na segunda-feira uma resolução no Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo temporário nos ataques de Israel, depois de ter bloqueado proposta semelhante do Brasil em outubro.

A reunião também ocorrerá sob pano de fundo da crise diplomática entre Brasil e Israel depois que Lula comparou no domingo a campanha militar israelense em Gaza com o Holocausto promovido pela Alemanha nazista contra os judeus.

Na segunda-feira, Israel convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv para uma reprimenda no Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, e anunciou que Lula não é bem-vindo em Israel até que se retrate de comentários. Em resposta, o Brasil também convocou o embaixador israelense para prestar esclarecimentos e ainda chamou de volta o enviado brasileiro em Israel.

Lyrio, no entanto, não acredita que a questão possa atrapalhar as negociações do G20, e avaliou que a apresentação de uma proposta de resolução feita pelos Estados Unidos, pedindo cessar-fogo, é a boa notícia do momento. "O Brasil tem feito reiterados pedidos de cessar-fogo", lembrou.

As reuniões do G20 no Brasil seguirão, na próxima semana, com o encontro da chamada trilha financeira formada pelos ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais, e ao longo do ano outros encontros serão realizadas sobre diversas áreas, até a cúpula em novembro, no Rio de Janeiro.

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