Reuters
Publicado 09.05.2023 09:14
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de fundos de investimento em direitos creditórios, conhecidos pela sigla Fidcs, experimenta um momento mais desafiador dado o quadro macroeconômico do país, avalia Ricardo Binelli, sócio-diretor na Solis Investimentos, referência no segmento, com mais de 13 bilhões de reais em ativos sob gestão.
"É um cenário que requer muito mais proximidade (no acompanhamento no dia a dia) e atenção", afirmou o executivo à Reuters, acrescentando que a Solis, que atua tanto na gestão como originação de Fidcs, tem adotado uma atitude bem mais defensiva na seleção dos fundos.
O aumento forte e rápido da Selic desde março de 2021 - de 2% para 13,75% - e a manutenção desse nível desde setembro de 2022 combinados com uma economia cambaleante pressionaram a capacidade de pagamento de dívidas por pessoas físicas e empresas, acendendo um alerta sobre esses ativos.
Fidcs são dívidas, como duplicatas, empréstimos consignados, cartão de crédito, entre outros, convertidas em títulos, repassados a um fundo de investimento, por meio de securitização. E o principal risco é justamente a inadimplência.
De acordo com Binelli, a Solis não observou ainda nenhum caso mais grave envolvendo os Fidcs em seus portfólios, como por exemplo a necessidade de recomposição de cota subordinada, destacando o trabalho no monitoramento dos ativos e a barra mais alta na seleção para compor as carteiras.
Ele também não demonstra muita preocupação com o prognóstico de que da taxa Selic ainda em 2023 e no próximo deve cair, conforme apontado nas últimas pesquisas Focus.
"Se a taxa de juros cair, vai ter migração para ativos de risco? Possivelmente vai... Mas não vamos voltar a 2%", afirmou, referindo-se à mínima da Selic alcançada em agosto de 2020 e mantida até março de 2021, em meio à pandemia de Covid-19, o que ele considerou um ponto fora da curva.
"Mesmo que a taxa (Selic) vá para 7% ou 8%...vamos continuar conseguindo entregar 12% ou 13%. Vai continuar sendo, no mundo da renda fixa, (uma rentabilidade) interessante", acrescentou, não decartando, contudo, um fluxo menor de captação de recursos.
Após dobrar o volume em ativos sob gestão em 2022, para 12 bilhões de reais, a Solis tem como meta terminar 2023 com 15 bilhões. Mas o gestor avalia que parte desse movimento deve refletir um "crescimento vegetativo" favorecido pela taxa de juros, dada a perspectiva de desaceleração na captação.
Na originação de Fidcs, após um começo de ano mais fraco, a Solis estima que maio e junho devem mostrar uma melhora no volume de operações, com destaque para crédito consignado.
"No bimestre maio e junho, vamos ter bastante coisa nossa. E o mercado também trouxe coisas que já éramos investidores, que conhecemos e gostamos...estão emitindo novas séries. Então, esperamos no primeiro semestre otimizar (diminuir) a nossa posição de caixa", acrescentou.
Binelli também destacou a mudança recente em regras no Brasil que flexibilizaram o acesso aos Fidcs a pessoas físicas - até então restritos a investidores qualificados e profissionais -, afirmando ser um "divisor de águas", que abre várias possibilidades de desenvolvimento do mercado. As novas regras estão previstas para entrar em vigor em outubro.
Escrito por: Reuters
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