Governo irá trocar multas de infratores ambientais por ações de recuperação

Reuters

Publicado 17.08.2017 20:34

Governo irá trocar multas de infratores ambientais por ações de recuperação

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O governo deve publicar na próxima semana um decreto que permitirá ao Ibama trocar as multas aplicadas por crime ambiental por ações de recuperação ambiental, informou nesta quinta-feira o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.

O decreto que altera a lei de crimes ambientais prevê que, em vez de pagar em dinheiro, os infratores - grandes ou pequenos - possam trocar as punições pela participação em projetos ambientais indicados pelo ministério por meio de edital ou fazer propostas de ações que serão supervisionadas pelo Ibama.

Do lado do devedor, a principal vantagem de aderir ao programa é o desconto que será oferecido. No caso dos projetos diretos - em que o devedor faz e aplica ele próprio as propostas, será de 35 por cento no valor total da multa.

Já nos projetos indiretos, em que o ministério seleciona as ações por edital e indica qual deverá receber os recursos, será de 60 por cento.

A proposta tem potencial para zerar o passivo de multas devidas ao órgão. Levantamento do Ministério do Meio Ambiente mostra que, entre 2011 e 2016, o Ibama aplicou o equivalente a 23 bilhões de reais em multas, mas só chegaram efetivamente aos cofres públicos 605 milhões de reais.

"Nós temos um problema grande de pagamento hoje. E ainda esse dinheiro não vai para projetos. Só 20 por cento vai para o Fundo Nacional do Meio Ambiente. O resto vai para o Tesouro", disse o ministro.

De acordo com a presidente do Ibama, Suely Araújo, em média 30 por cento dos processos são pagos, e 5 por cento do valor em dinheiro. "O pequeno infrator paga. O grande vai para a Justiça", explicou. Em alguns casos, processos contra as multas correm há 15 anos.

O decreto pretende que as ações sejam além da reparação do dano causado pelo crime ambiental, que vai continuar a ser obrigatório. Elas não poderão ser feitas no mesmo lugar do incidente.

"O autuado terá que prestar o serviço em outra área. A reparação é outra coisa, terá que ser mantida", disse o ministro.

O uso dos recursos terá algumas limitações. Os devedores só poderão trocar a multa por serviços até as alegações finais do processo administrativo. Depois de vencidos os prazos e inscritos na dívida ativa, não há mais como fazer a conversão.

Com isso, o Ibama calcula o potencial de investimento nessas ações neste momento em 4,6 bilhões de reais. Dois dos maiores devedores ambientais, a Petrobras (SA:PETR4) e a empresa de saneamento do Paraná, Sanepar, estão entre as que já se preparam para aderir.

Segundo Sarney Filho, ambas pretendem assinar o protocolo de intenções no mesmo dia em que o decreto for assinado pelo presidente Michel Temer.

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A Sanepar deve hoje ao Ibama cerca de 300 milhões de reais e planeja apresentar ações no modelo direto, administrando ações de recuperação com apoio técnico da Universidade Federal do Paraná.