Tasso pressiona por rompimento do PSDB com Temer, mas falta consenso na cúpula do partido

Reuters

Publicado 06.07.2017 20:54

Tasso pressiona por rompimento do PSDB com Temer, mas falta consenso na cúpula do partido

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - Dirigentes do PSDB ainda não chegaram a um consenso de que é preciso romper imediatamente com o governo Temer, apesar da crescente pressão feita pelo presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), que disse nesta quinta-feira que o país está chegando a uma "ingovernabilidade" e que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reúne condições para levar a um mínimo de estabilidade até 2018.

Em conversa com jornalistas, Tasso fez projeções para um presidente no Palácio do Planalto, destacando que o importante seria manter a atual equipe econômica e os partidos da base, com a presença de nomes que não tenham questionamentos no campo ético.

Apesar das indicações do presidente interino para um pós-Temer, um dirigente da cúpula do PSDB afirmou reservadamente à Reuters que não há qualquer decisão tomada pelo partido para deixar a base do governo e entregar os cargos que ocupa na Esplanada dos Ministérios.

Esse tucano admitiu, no entanto, que há um "exaurimento" da gestão do presidente Michel Temer e lembrou que o apoio ao peemedebista está condicionada à agenda de reformas.

Na próxima semana, o Senado deverá votar a reforma trabalhista. Essa proposta é tida por alguns tucanos como o "ponto de rompimento" com o governo, uma vez que a reforma da Previdência não deverá avançar diante das acusações que pairam sob Temer e paralisam a articulação da principal reforma do governo.

A avaliação do dirigente que conversou com a Reuters é que, mesmo com toda a carga de denúncias contra o presidente, o governo está funcionando e conseguindo aos poucos colher feitos na área econômica. O tucano duvida, ao contrário do que defendera Tasso, que Rodrigo Maia teria condições de levar adiante a agenda de reformas.

Maia assumiria o comando do país por até 180 dias, caso a Câmara aprove a autorização para que o Supremo Tribunal Federal analise a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente por corrupção passiva, e o STF acate a acusação, tornando Temer réu. Esse seria o prazo para que a corte julgasse o peemedebista --ele retornaria ao comando do país se o STF não o concluísse o julgamento até lá.

Se Temer for condenado e afastado em definitivo, Maia teria 30 dias para conduzir o processo de uma eleição indireta --no qual, ele próprio, poderia ser candidato para o mandato-tampão até o final de 2018.

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A pressão pelo desembarque do PSDB do governo também tem aumentado nos últimos dias pelos deputados mais novos da legenda, os chamados "cabeças-pretas". O partido vai liberar a bancada para votar como quiser sobre a denúncia contra Temer.

As eventuais delações do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do empresário Lúcio Funaro --que devem implicar Temer-- aumentam ainda mais a preocupação entre tucanos sobre respaldar o governo.

Tasso, por exemplo, disse nesta quinta-feira que a delação de Cunha não teria "nem o que discutir mais". Se a situação deteriorar, segundo tucanos, o partido precisa calibrar o momento da saída para não ter maiores prejuízos eleitorais em 2018, quando pretende ter candidatura própria ao Planalto.