Temer quer reforma ministerial ampla, mas base reclama "exceções" para permanecer na Esplanada até abril

Reuters

Publicado 14.11.2017 21:28

Temer quer reforma ministerial ampla, mas base reclama "exceções" para permanecer na Esplanada até abril

Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - A decisão do presidente Michel Temer, de antecipar para as próximas semanas a reforma ministerial, incluindo todos os ministros candidatos em 2018, pode esbarrar em alguns casos complexos e de difícil substituição, que incluem desde o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles --visto como garantia da política econômica-- a ministros investigados que ficarão sem foro privilegiado.

De acordo com uma fonte palaciana, apesar da decisão do presidente de tentar fazer apenas uma reforma, será inevitável uma segunda etapa.

"Alguns casos são muito complicados para se fazer uma troca apenas política agora. O mais provável é que haja sim uma segunda etapa em março", disse.

Uma eventual substituição de Meirelles seria a mais complicada. Principal nome da política econômica, o ministro é visto pelo mercado como um fiador do ajuste fiscal e da reforma da Previdência, que tem negociado diretamente. Apesar da garantia de auxiliares próximos ao presidente de que a política econômica não mudaria, uma saída de Meirelles agora não cairia bem com o mercado.

No entanto, o ministro tem repetido que neste momento não é candidato e tem até março para decidir. "Ele não pode sair agora por uma questão política. É preciso garantir o ajuste, as medidas fiscais pelo menos até a virada do ano", disse a fonte.

Outro caso complicado é o do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que é candidato em seu Estado e chegou a sair do PSB para continuar no governo quando o partido abandonou a base.

Coelho está à frente do processo de privatização da Eletrobras (SA:ELET3) e é visto na área como peça essencial para levar adiante a negociação com o Congresso que levará a venda da estatal.

Outro que possivelmente ficará até o período de desincompatibilização é o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. Tucano, o chanceler ficaria no governo na cota pessoal do presidente. Aloysio já informou sua equipe no Itamaraty que tentará a reeleição como senador em São Paulo e irá deixar o cargo em algum momento, mas o próprio Temer pretende mantê-lo por mais tempo.

Entram na lista de complicações, ainda, ministros que perderão o foro privilegiado e já estão na lista de investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. É o caso de Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços). Nenhum dos dois têm cargo eletivo hoje.

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Esses, no entanto, não estão sendo, ao menos por enquanto, sendo analisados. Segundo uma outra fonte, o presidente planeja terminar as conversas com todos os possíveis candidatos, líderes e presidentes de partidos para organizar o mapa das substituições até o final da próxima semana.

DUAS ETAPAS

Na base, as reclamações já começaram e vários parlamentares já se colocam no lugar de "exceções". O próprio partido do presidente, o PMDB, se vê fora de uma lista precoce de reformáveis, mas fontes palacianas garantem que esse não é o caso.

O presidente do PR, Antonio Carlos Rodrigues, afirmou à Reuters que vai se reunir com Temer em breve para definir a presença do partido que dirige na reforma ministerial. O PR comanda o Ministério dos Transportes com o deputado federal licenciado Maurício Quintella Lessa. Segundo Rodrigues, Quintella será candidato ao Senado por Alagoas.

O dirigente do PR, contudo, não quis adiantar se vai defender a permanência Quintella no cargo até às vésperas do período de desincompatibilização. "Vou ouvir presidente", limitou-se a dizer.

Apesar do discurso oficial de uma mudança única e ampla agora, um vice-líder do governo afirmou, sob a condição do anonimato à Reuters, acreditar que haverá duas etapas da reforma ministerial.

Segundo essa fonte, a primeira é para acomodar a pressão dos partidos da base decorrente do espólio do provável desembarque do PSDB do governo --iniciado pela saída do titular das Cidades, Bruno Araújo-- e tentar garantir votos para aprovar a reforma da Previdência.