Campos Neto pede coordenação entre gastos e política monetária; Alckmin garante responsabilidade fiscal

Reuters

Publicado 26.11.2022 16:43

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse neste sábado que existe necessidade de coordenação entre as políticas monetária e fiscal para que o Brasil não entre em "rota de colisão", voltando a alertar que a conduta das contas públicas tem efeito sobre as decisões da autarquia.

No Fórum Esfera, organizado no Guarujá pelo think-tank Esfera Brasil, Campos Neto dividiu o palco com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, que reforçou o compromisso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a responsabilidade fiscal.

"Você não quer estar, de um lado, subindo juros, e, de outro, o fiscal sendo expansivo, porque no final você entra numa trajetória de colisão", disse Campos Neto no evento.

"A gente precisa entender que a gente teve um gasto global muito alto, que existe uma dívida a ser paga muito alta em todos os países, no Brasil também. Isso tem efeito no que o Banco Central faz."

Seus comentários vieram depois que os juros futuros dispararam nas últimas semanas em meio à percepção de risco fiscal elevado diante da tentativa do governo eleito de viabilizar amplos gastos extra-teto a partir do ano que vem, com a curva de DIs chegando a precificar novos aumentos da Selic --atualmente em 13,75%-- em 2023.

"O que a gente precisa entender é que juros não é causa, é consequência, é uma consequência de um trabalho bem feito. Obviamente nenhum banqueiro central quer ter juros altos, a gente quer ter juros baixos", disse Campos Neto.

No evento, o presidente do BC também alertou para os riscos da inflação, em meio a expectativas crescentes no mercado financeiro de que as pressões de preços possam voltar a ganhar fôlego a partir do ano que vem sob a flexibilização fiscal pretendida pelo governo eleito.

"A inflação é um elemento social também... Quem tem mais recursos se protege da inflação, quem tem menos, não... Ela dificulta muito o planejamento de longo prazo das empresas, das pessoas, o que no final significa menos crescimento e menos emprego", disse Campos Neto.