Câmara mantém prisão de Chiquinho Brazão, acusado de ser mandante do assassinato de Marielle

Reuters

Publicado 10.04.2024 16:20

Atualizado 10.04.2024 20:25

Por Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - O plenário da Câmara dos Deputados votou nesta terça-feira pela manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em um placar que garantiu por pouco a continuidade da detenção.

Era necessário um mínimo de 257 votos para que Brazão seguisse preso -- 277 deputados votaram pela manutenção da prisão, 20 acima do necessário, margem relativamente tímida em uma Casa que conta com 513 deputados. Outros 129 posicionaram-se contra a detenção do parlamentar e 28 estiveram presentes mas preferiram não votar, ajudando, na prática, o lado que defendia a soltura do deputado.

A detenção havia sido determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no fim de março, quando o parlamentar foi preso junto com o irmão, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Os dois são acusados de mandar matar a vereadora Marielle Franco, em 2018.

Mais cedo, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara havia aprovado, por 39 votos a 25, relatório que recomenda a manutenção da prisão preventiva do parlamentar.

"Considerando presentes os requisitos constitucionais do flagrante e da inafiançabilidade, além de estar adequadamente fundamentada, meu voto é pela preservação da eficácia da decisão proferida pelo ministro Alexandre de Moraes, referendada, à unanimidade, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal", afirma o relator do caso na CCJ, deputado Darci de Matos (PSD-SC).

A discussão do caso na CCJ já havia dado o tom do que poderia ocorrer no plenário: parlamentares questionaram o caráter da prisão, sob a alegação de que ela não cumpriu critérios que poderiam se sobrepor ao instrumento da inviolabilidade do mandato parlamentar.

Por trás desse discurso, estava a intenção de alguns dos deputados de marcarem posição e mandarem um recado ao Supremo em meio a uma disputa entre Poderes.

Darci de Matos, a maioria da CCJ e do plenário consideraram, no entanto, que a detenção se justifica por se tratar de prisão em flagrante de crime inafiançável.

"Registre-se... que o crime que ensejou a prisão

preventiva do deputado Chiquinho Brazão foi o de obstrução de justiça com o envolvimento de organização criminosa... no intuito de prejudicar a investigação de um crime hediondo", argumentou o relator.

"A nosso ver, resta claramente configurado o estado de flagrância do crime apontado, seja por sua natureza de permanência, seja pelo fato de que os atos de obstrução continuavam a ser praticados ao longo do tempo."

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Já o advogado de Brazão, Cleber Lopes, argumentou durante sustentação no plenário da Casa que o STF não teria competência para lidar com o processo, porque os crimes investigados teriam ocorrido em data anterior ao mandato do deputado.

"Se o fato foi praticado antes do mandato, os atos de obstrução não têm relação com o mandato, não há sequer competência do Supremo Tribunal Federal", afirmou o advogado, pedindo que o plenário declarasse a ilegalidade da prisão.

"É um desatino, é um absurdo enxergar nisso uma situação de flagrante."