Exército prepara saída definitiva da fiscalização de armas e munições importadas

Estadão Conteúdo

Publicado 01.09.2022 14:00

Atualizado 01.09.2022 17:11

Exército prepara saída definitiva da fiscalização de armas e munições importadas

Brasília - O Exército elaborou uma proposta para abrir mão em definitivo da fiscalização de armas de fogo, munições e coletes importados. A medida coincide com o lobby armamentista, interessado em facilitar a importação e provocou forte reação da indústria nacional. A Taurus, principal fabricante brasileira, ameaça tirar parte de sua produção do Brasil se a portaria entrar em vigor.

A fiscalização seria substituída por um documento internacional que atestaria a qualidade e a segurança dos equipamentos. Dessa forma, as importadoras de produtos controlados não precisariam mais se submeter ao rígido processo de certificação nacional, que segue obrigatório para as fabricantes brasileiras.

Em 2020, o Exército admitiu excepcionalmente suspender a fiscalização por dois anos alegando falta de estrutura. O prazo termina agora em setembro, quando todos os importadores estariam obrigados a se submeter novamente à certificação nacional. Documentos internos revelam, contudo, que os militares querem tornar permanente a decisão que até agora é provisória.

O Exército realizou uma consulta pública para discutir o assunto. Grupos e entidades armamentistas fizeram campanhas para que seus membros endossassem o fim da fiscalização. Um texto padrão que deveria ser usado no preenchimento da consulta pública do Exército circulou nos grupos de clubes de tiro e de lojas de armas com o objetivo de manipular o resultado da consulta.

"O texto está adequado para permitir a entrada de produtos importados que já se submeteram a procedimentos externos de avaliação", dizia a mensagem dos armamentistas. "O mercado de armas e munições conta com poucas empresas nacionais, sendo necessário arejar com equipamentos importados quer para a manutenção da soberania nacional, quer para o atendimento da demanda interna que tem crescido acima da capacidade de atendimento da indústria nacional."

A flexibilização foi endossada pelo Movimento Proarmas, o grupo mais representativo dos colecionadores de armas, atiradores e caçadores (CACs). Nas redes sociais, candidatos nas eleições de outubro apoiados pelo grupo convocaram seguidores para opinar na consulta pública promovida pelo Exército. "Eu vou ensinar os senhores a responder", afirmou Cesar Mello (PP), que disputa vaga de deputado estadual no Paraná.

h2 Crise/h2

A indústria nacional está em alerta. A Taurus (BVMF:TASA4), sediada no Rio Grande do Sul, não descarta reduzir investimentos no País se a mudança na regra de importação for consolidada. A companhia tem 82 anos e emprega cerca de 3,7 mil colaboradores.

Ao Estadão, a empresa informou que a proposta do Exército beneficia a indústria estrangeira, quebra a isonomia do mercado e fere a Constituição, a Estratégia Nacional de Defesa, a Política Nacional de Defesa e a Política Nacional da Base Industrial de Defesa.

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"Não traz nenhum benefício ao Brasil, pois, além desses produtos não passarem por nenhum processo de homologação que possa comprovar sua eficiência, ainda incentiva a importação", disse e empresa, em nota enviada ao jornal.

"Desincentiva as empresas estrangeiras de virem produzir no Brasil, de gerarem empregos e riquezas aqui no País, e, o que é pior, incentiva empresas como a Taurus, que possuem fábricas no exterior, a reduzirem os investimentos no Brasil, passando a produzir nas unidades no exterior e exportarem para o Brasil, já que essa falta de isonomia cria custos que tiram a competitividade da indústria nacional", complementou a empresa.

A vistoria nacional, que atesta qualidade e segurança dos produtos, é considerada rigorosa por tratar qualquer produto como se fosse um protótipo. O processo também é considerado mais lento do que o realizado no exterior.

h2 Esvaziamento/h2

Apesar do discurso pró-armas do governo, a empresa estatal dedicada ao setor vem sendo enfraquecida na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). A Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), subordinada ao Exército, tem sofrido com redução de repasses. O orçamento deste ano é de R$ 209,2 milhões, o menor em valores absolutos desde 2008.

A indústria nacional não recebeu nem um real do orçamento secreto - mecanismo revelado pelo Estadão que consiste na liberação de verbas federais para deputados e senadores sem transparência.

Questionada sobre eventuais prejuízos com a medida que beneficia a indústria estrangeira, a Imbel disse não poder opinar sobre decisões do Exército, ao qual é subordinada.

h2 Influencer/h2

As queixas contra a indústria nacional são recorrentes entre apoiadores de Bolsonaro. O filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), costuma apresentar nas redes sociais marcas e modelos que conhece em viagens pelo exterior. Nos vídeos, ele aparece usando os armamentos e comentando sobre a qualidade dos produtos.

Em 2019, reclamou da dificuldade para importar equipamentos. "Demora em média quase um ano e uma arma desta custa algo em torno de R$ 10.000. Nos EUA (sai por) R$ 2.500", postou. Em outubro passado, Eduardo publicou um vídeo enaltecendo a Caracal, estatal dos Emirados Árabes Unidos.

Procurado, o Exército admitiu a existência da minuta, mas sustentou que ela não afrouxa o controle sobre armas importadas. "Também terão que comprovar a sua avaliação, segundo critérios previstos em normas de ampla aceitação internacional", informou em nota. Os militares não comentaram sobre o impacto da medida na indústria nacional.

O gerente do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, disse que o Exército está se eximindo de sua atribuição de fiscalizar. "O principal problema é o Exército não garantir a qualidade dos produtos que estão entrando", afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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