Reuters
Publicado 02.10.2022 21:55
Atualizado 03.10.2022 01:15
Por Pedro Fonseca e Flavia Marreiro
(Reuters) - Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado na eleição presidencial deste domingo, mas disputará um tenso segundo turno com o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que superou o estimado pelas principais pesquisas de opinião e ficou a pouco mais de 5 pontos de distância do ex-presidente.
Com 99,96% das seções eleitorais apuradas, Lula obteve 48,42% dos votos válidos neste domingo, contra 43,21% de Bolsonaro, seguido de Simone Tebet (MDB), com 4,16%, e Ciro Gomes (PDT), com 3,04%.
"Eu sempre achei que a gente ia ganhar essas eleições e vamos ganhar. Isso para nós é apenas uma prorrogação", disse Lula. "Vai ser importante fazer um debate tête-à-tête com o presidente da República", afirmou o petista, que discursou a apoiadores na av.Paulista.
Já Bolsonaro falou a jornalistas e seguidores no Palácio da Alvorada, em Brasília. Não quis comentar o desempenho das urnas eletrônicas, que ele ataca frequentemente, e sinalizou que tentará cortejar o eleitorado mais pobre, que se inclina a Lula, irritado com a inflação.
"Eu entendo que tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior", disse o presidente.
O resultado indica que o trabalho do petista para atrair o voto útil e definir a disputa já neste domingo ficou longe de ser suficiente, enquanto a estratégia do candidato à reeleição de atacar duramente o adversário nos últimos dias conseguiu manter aberta a disputa, atraindo ao que tudo indica o voto útil de Ciro Gomes e Simone Tebet.
Os números não só de Bolsonaro como de seus apoiados para o Senado mostram uma arrancada final do força política do presidente, aumentando a pressão sobre as principais pesquisas de opinião, que projetavam vantagem de Lula e aliados.
"As pesquisas não conseguiram captar o voto de direita", disse Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria.
As próximas semanas até o segundo turno em 30 de outubro devem registrar uma disputa tensa --de agosto para cá houve vários episódios de violência-- e acirrada, ainda mais agora quando, definitivamente, todas as atenções estarão centradas em Bolsonaro e Lula.
De cara, a campanha do petista admite a frustração com os resultados, mas já tenta buscar os votos dos eleitores de candidatos derrotados. Segundo uma fonte do PT, as conversas com o MDB de Simone Tebet, que teve acenos de aproximação com Lula, já começaram.
Apesar das críticas ferrenhas ao petista durante a campanha, Ciro Gomes não declarou neutralidade --ainda. Pediu "tempo" para definir seu posicionamento no segundo turno.
Já Bolsonaro ganha combustível para mobilizar ainda mais sua fiel militância. O presidente vinha desacreditando os institutos de pesquisas, dizendo preferir o "datapovo".
De acordo com fontes de sua campanha, a ideia é centrar forças num primeiro momento em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral do país e onde Romeu Zema (Novo) foi reeleito e deve apoiar Bolsonaro.
"Deve ser uma eleição muito apertada", prognostica Cortez, da Tendências.
"Lula tem mais atributos para trazer fatos novos para a campanha", diz o analista, mas pondera que, com mais tempo, Bolsonaro pode se beneficiar da melhora recente da economia.
Os mercados devem reagir positivamente à demonstração de força de Bolsonaro nas urnas, com os investidores se voltando a apostas no cenário de reeleição do candidato considerado mais alinhado a uma agenda liberal.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, Ricardo Brito, Eduardo Simões, Tatiana Bautzer, André Romani e Fernando Cardoso)
Escrito por: Reuters
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