Partidos condenam ameaças de Bolsonaro e impeachment entra na pauta

Reuters

Publicado 08.09.2021 09:43

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - Um possível impeachment do presidente Jair Bolsonaro passou a ser discutido por diversos partidos que até o momento não fazem oposição sistemática ao governo, mas que condenaram os discursos de Bolsonaro no dia 7 de Setembro, nos quais o presidente elevou o tom dos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ameaçou descumprir decisões judiciais.

Em nota, o PSD anunciou que criará uma comissão nesta quarta para acompanhar as próximas manifestações de Bolsonaro e avaliar eventual apoio a um processo de impedimento contra ele.

"A cada dia, vemos aumentar a instabilidade e o PSD está acompanhando essa situação com muita atenção. Temos avaliações de alguns importantes juristas apontando que apenas as falas, as manifestações, seriam razões suficientes para justificar o processo. Vamos acompanhar a conduta do governo para determinar, ou não, a defesa e o apoio a um eventual processo de impeachment do presidente da República", disse o presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, ainda na terça, de acordo com nota do partido.

"Tivemos hoje a temperatura mais elevada, manifestações muito duras, acima do tom. Começam a surgir indicativos importantes, que podem justificar o impeachment. A fala de que o presidente não vai acatar decisões judiciais é muito preocupante", acrescentou.

O PSD tem uma bancada de 34 deputados federais e 11 senadores.

Também em nota na terça, o Cidadania --que tem sete deputados e três senadores com posição frequente contrária ao governo-- defendeu o impeachment de Bolsonaro e prestou solidariedade ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, principal alvo dos ataques desferidos pelo presidente em seus discursos da véspera.

"A resposta tem de ser política. E ela começa pelo devido processo de impeachment", afirma a nota assinada pelo presidente nacional da legenda, Roberto Freire.

Ainda na tarde de terça, o PSDB --cuja bancada tem 33 deputados e sete senadores-- anunciou que sua Executiva Nacional se reunirá nesta quarta para discutir a posição do partido sobre a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro.

O governador de São Paulo, João Doria, um dos pré-candidatos da sigla à Presidência, posicionou-se favoravelmente ao impeachment e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que também disputará as prévias tucanas para o Palácio do Planalto, disse que foi um erro colocar Bolsonaro no poder e é um erro mantê-lo lá.

O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, também defendeu o impeachment de Bolsonaro após os discursos do 7 de Setembro. A sigla tem 14 deputados federais e nenhum senador.

Em que pese a manifestação de dirigentes partidários colocando o impeachment de Bolsonaro na pauta, esse posicionamento não implica necessariamente em alinhamento das bancadas na Câmara e no Senado, embora seja um indicativo importante.

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Em nota conjunta, DEM e PSL --partido pelo qual Bolsonaro se elegeu em 2018 e que ainda abriga apoiadores ferrenhos do presidente mesmo após sua saída da sigla, caso do deputado Eduardo Bolsonaro (SP)-- não citaram eventual apoio a um impeachment, mas defenderam dar um "basta nas tensões políticas, nos ódios, conflitos e desentendimentos que colocam em xeque a Democracia brasileira".

"O PSL e o Democratas entendem que a liberdade é o principal instrumento democrático e não pode ser usada para fins de discórdia, disseminação de ódio, nem ameaças aos pilares da própria Democracia. Por isso, repudiamos com veemência o discurso do senhor presidente da República ao insurgir-se contra as instituições de nosso país", afirma a nota.