Senacon manda Google sinalizar texto sobre PL das Fake News como propaganda e impõe multa milionária

Reuters

Publicado 02.05.2023 12:46

Atualizado 02.05.2023 17:26

Por Eduardo Simões

(Reuters) - A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, determinou nesta terça-feira que o Google sinalize imediatamente como propaganda o texto contrário ao projeto de lei das Fake News que a empresa publicou em sua página principal e que divulgue no mesmo espaço texto favorável à proposta, sob pena de multa de 1 milhão de reais por hora de descumprimento.

Decisão posterior do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a remoção integral de anúncios, textos e informações veiculados, propagados ou impulsionados pelo Google, da Alphabet (NASDAQ:GOOGL), Meta Spotify (NYSE:SPOT) e Brasil Paralelo, contra o projeto. Também determinou que a Polícia Federal colha depoimentos de representantes das empresas para que expliquem sua conduta em cinco dias.

Em entrevista coletiva em Brasília, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que o Google realizou propaganda enganosa e abusiva ao colocar o link para o texto contrário à proposta em sua página principal. Ele acusou a empresa de ter uma postura arrogante e buscar manipular a opinião pública sobre o tema, além de afirmar que plataformas e redes sociais querem o "faroeste cibernético" no país.

"Precisamos acabar com o faroeste digital. Essas empresas querem o faroeste cibernético no Brasil. E esse faroeste digital, este faroeste cibernético mata. Para que não haja nenhuma dúvida, este faroeste cibernético mata. Mata crianças, mata adolescentes, mata pessoas por doenças e todas as empresas no Brasil são reguladas", disse Dino.

A página principal do Google já não exibe mais o link para o texto contrário à proposta.

De acordo com o secretário nacional de Defesa do Consumidor, Wadih Damous, também presente na coletiva, a decisão cautelar da Senacon também determina que o Google se abstenha de favorecer a divulgação de posicionamentos contrários ao PL das Fake News, assim como de restringir o acesso a publicações favoráveis à proposta.

Dino disse ainda que a Senacon tem "centenas de indícios" de que empresas estariam manipulando seus termos de uso a favor de interesses próprios e em detrimento de outras vozes. Ele afirmou que esses indícios serão alvos de apuração e que, embora o ministério atue na seara administrativa, há possibilidade de que as alegadas condutas impliquem em crimes, a ser objeto de análise do Ministério Público.

O Ministério Público Federal em São Paulo notificou na segunda o Google e a Meta por supostamente estarem atuando em suas plataformas contra o projeto. Elas terão 10 dias para prestar esclarecimentos.

Procurado, o Google informou que apoia as discussões para combater a desinformação, mas manifestou "preocupações" em relação ao projeto. Também confirmou ter reforçado esse posicionamento em seu blog oficial e na página inicial da Busca, por meio de link sobre o PL, argumentando que os recursos já foram utilizados em outras ocasiões, como a pandemia de Covid-19.

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"É importante ressaltar que nunca alteramos manualmente as listas de resultados para favorecer a posição de uma página de web específica. Não ampliamos o alcance de páginas com conteúdos contrários ao PL 2630 na Busca, em detrimento de outras com conteúdos favoráveis", acrescenta.

Na noite de segunda, em comunicado após as reações à publicação do link com o texto contrário ao PL, a empresa considerou "falsas" as alegações de que estaria favorecendo em seu mecanismo de busca conteúdos contrários ao PL das Fake News. Argumentou ainda que a proposta, que tramita no Congresso há três anos, não foi suficientemente debatida. Também aponta que o texto sofreu várias alterações nas últimas semanas.

CENSURA "CLANDESTINA"

Na coletiva de imprensa, Dino ainda afirmou que o ministério está tentando impedir uma censura "privada e clandestina" ao debate do PL das Fake News, que transcorre na Câmara dos Deputados.

O ministro afirmou ainda que a regulação das plataformas de redes sociais é, além de uma necessidade urgente, uma exigência da Constituição. Ele garantiu que a regulação irá ocorrer, se não pela via legislativa --que para ele é preferível--, por meio de decisões administrativas e de determinações do Poder Judiciário.

"Que fique a mensagem consignada enfaticamente: os adeptos dessas práticas deletérias, nocivas, agressivas, imorais perderão. Eles vão perder. Não sei se hoje, se amanhã ou semana que vem, mas perderão, porque não é possível que haja esta burla, esta fraude em que interesses financeiros se disfarçam de defesa de princípios morais", disse.