Assassinato do general do Irã trouxe cautela aos mercados nesta sexta; entenda

Investing.com

Publicado 03.01.2020 17:00

Investing.com - A sessão desta sexta-feira foi marcada pela aversão ao risco com a elevação do prêmio do risco geopolítico, após ataque dos EUA próximo ao aeroporto internacional de Bagdá, capital do Iraque, matar o general e chefe da Força Quds da Guarda Revolucionária do Irã Qasem Soleimani na noite de quinta-feira (horário de Brasília). O assassinato foi um divisor de água em relação ao sentimento do investimento em relação ao pregão de quinta-feira: após renovar máximas históricas no pregão de quinta-feira, o otimismo cedeu lugar à cautela.

Logo após a confirmação da morte de Soleimani, o preço do petróleo disparou em Nova York e em Londres e os índices futuros de Nova York desabaram. O petróleo WTI, cotado em Nova York, registrou um salto de US$ 61,17 para US$ 63,55 às 22h00 de quinta-feira, enquanto o Brent, referência internacional negociado em Londres, disparou de US$ 66,47 para US$ 68,86.

Houve também uma valorização do preço dos ativos de refúgio logo depois da confirmação da morte de Soleimani. O ouro futuro com contrato em março de 2020 subiu US$ 10 a onça-troy imediatamente, de US$ 1.533,35 para US$ 1.542,55, enquanto o iene, porto-seguro para investidores japoneses, saiu de 108,54 iene por dólar para 107,95. Nos EUA, o rendimento da Treasury de 10 anos caiu de 1,877% para 1,833%. Vale ressaltar que, no caso das Treasuries, o rendimento cai devido ao aumento pela demanda do título.

Pregão de sexta-feira

O preço do petróleo prosseguiu operando em alta na sessão de hoje, com o WTI subindo 2,53% a US$ 62,73 e o Brent em alta 3,09% a US$ 68,30, já abaixo do patamar atingido com a alta súbita. A diminuição do preço da principal commodity de energia foi decorrente a um dado da indústria dos EUA de dezembro, que veio abaixo da expectativa, reacendendo o temor de uma desaceleração além do previsto para maior economia mundial e uma diminuição da demanda futura pela commodity.

O setor manufatureiro dos Estados Unidos recuou em dezembro no maior ritmo em mais de uma década, com os volumes de pedidos caindo para uma mínima em quase 11 anos e o emprego nas fábricas diminuindo pelo quinto mês consecutivo, de acordo com um relatório do setor divulgado nesta sexta-feira. O Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) disse que seu índice de atividade manufatureira nacional caiu para 47,2 no mês passado, ante 48,1 em novembro. É a leitura mais baixa desde junho de 2009. Uma leitura acima de 50 indica expansão no setor manufatureiro e, abaixo de 50, contração.

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O dado industrial, entretanto, não modificou a busca por ativos de risco, com exceção da moeda japonesa. O yield das Treasuries de 10 anos continuou o descenso até 1,8%, queda de 4,34%, enquanto o ouro futuro escalou para US$ 1.555,45, alta de 1,71%. O iene chegou a desvalorizar durante a manhã, mas recuperou o patamar de 107,90 ienes por dólar às 15h40.

Impacto no Brasil

O Ibovespa e dólar acompanharam a aversão ao risco no exterior e tiveram forte queda durante a manhã. O principal índice acionário brasileiro chegou à mínima de 117.340 pontos após atingir máxima de fechamento no pregão anterior acima de 118 mil pontos. Após divulgação do dado de produção manufatureira nos EUA, o Ibovespa diminuiu as perdas para 0,25% a 118.206 pontos.

Já o dólar atingiu a máxima de R$ 4,0717 logo na abertura do pregão. No entanto, a moeda americana oscila entre minimização das perdas e retomada da alta, com a mínima atingindo R$ 4,0251. Às 16h05, a moeda americana era negociada a R$ 4,0555, alta de 0,65%.

Por que a morte de Soleimani é importante?

O general Qassem Soleimani era chefe do Comando da Força Quds da Guarda Revolucionária do país. O objetivo de Soleimani era aumentar a área de influência do país no Oriente Médio, se contrapondo a interesses dos EUA, Arábia Saudita e Israel na região. A articulação ocorria através da busca de consenso entre ps interesses da República Islâmica com dos rebeldes e forças paralelas que atuam em outros países da região, como o Hezbollah no Líbano e o Hamas na Faixa de Gaza.

A estratégia também consistia em aproximação e formação de aliança com outras lideranças regionais, como o presidente sírio Bashar Al-Saad, além de ser um interlocutor confiável da Rússia por meio de conversas com chancele russo Sergei Lavrov.

Influente em seu país, era considerado a segunda pessoa mais importante do Irã, inclusive do presidente Hassan Rohani, abaixo apenas do aiatolá Ali Khamenei . Já foi especulado como candidato a presidente da República Islâmica em pleitos passados.

A alegação dos EUA de efetuar o ataque que vitimou o general em Bagdá foi para evitar que Soleimani planejasse um atentado contra interesses americanos no Iraque. Ontem, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, disse que havia sinais de que o Irã ou forças que ele apoia poderiam estar planejando ataques e alertou sobre a possibilidade de os Estados Unidos efetuar uma ação preventiva.

A declaração do secretário de Defesa americano foi após dois dias de protestos de manifestantes apoiados pelo Irã na Embaixada dos EUA no Iraque. Os manifestantes chegaram a atirar pedras contra o prédio, mas foram expulsos por tropas extras.

O protesto na Embaixada se insere no quadro de manifestações gerais que ocorre no Iraque contra governo do primeiro-ministro iraquiano Adil Abdul-Mahdi, que tem apoio de Teerã. Dois dias antes do incidente na embaixada, houve um ataque aéreo dos EUA que matou 25 pessoas. Os EUA alegaram que o ataque foi uma retaliação contra-ataques com mísseis que mataram um prestador de serviço norte-americano no norte iraquiano na semana passada.

Guarda Revolucionária classificada como organização terrorista pelos EUA

Mas havia um contexto maior para os EUA atacar Soleiname. O governo americano classificou, em abril, a Guarda Revolucionária chefiada pelo general como organização terrorista. “A classificação foi devido à sua forma de atuação não-peculiar, que tem por objetivo de produzir desmembramentos, desmantelar redes de atuação e de espionagem, uma forma de atuação muito próxima da Mossad e da CIA, de articulação de forças rebeldes, de atos simbólicos e até em alguns casos considerados como criminosos”, afirma Alcides Peron, pesquisador da USP e pesquisador visitante do King’s College London.

Por que houve o ataque?

Na visão do pesquisador, a morte do general pode ser classificada como assassinato extrajudicial. “Na ausência de uma guerra, de conflito aberto, é extremamente ilegal, principalmente porque ocorre em um país sem estar em guerra e contra uma figura de Estado”, afirma Peron, que avalia a estratégia americana de desmobilização estratégica do Irã devido a Soleimani ser um agente estatal que elaborava a condução do país na busca de seus interesses.

Consequências

“Alguma movimentação militar russa pode acontecer, vai depender de como o Irã vai capitalizar a morte, inclusive convocar seus aliados para uma reação”, diz o pesquisador. Até o momento, autoridades russas não se pronunciaram.

“Provavelmente EUA e Israel vão dizer que foi morte de um líder terrorista”, prossegue, ressaltando que alertas na fronteira em Israel devem ser acionados e que tropas e aparato militar dos EUA podem se deslocar para a região. Autoridades americanas já afirmaram que 3 mil soldados foram enviados ao Oriente Médio como reforço.

“Há risco de aumentar a tensão muito próximo a níveis semelhantes ao que aconteceu na Síria recentemente. Ainda é muito cedo falar de conflitos abertos, os sinais não estão claros”, projeta Peron, caso interesses russos na região estejam ameaçados.

“Já o Irã vai condenar, mas é difícil apontar se com um ataque unilateral contra os EUA ou por meio de terrorismo dos grupos aliados à Guarda Revolucionária”, prossegue o pesquisador, que também aposta debates sobre o assunto nas Nações Unidas, especialmente no Conselho de Segurança.

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