Aversão a risco faz estrangeiro tirar R$6 bi do mercado secundário no começo de outubro

Reuters

Publicado 08.10.2019 16:37

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa brasileira começou outubro com forte saída de capital externo das negociações no mercado secundário, em meio ao aumento da aversão a risco externo e receios sobre o ritmo de crescimento das economias dos Estados Unidos e China, que vivem um embate comercial ainda sem sinal claro de desfecho.

Nos primeiros quatro pregões do mês, as saídas de estrangeiros já superam as entradas em 6,2 bilhões de reais. Tal movimento vem após setembro registrar o primeiro saldo positivo mensal desde março. No ano, os números mostram saída líquida de 27 bilhões de reais.

O Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, acumulou queda de 2% de 1 a 4 de outubro, chegando a cair abaixo de 100 mil pontos na quinta-feira. Até a véspera, a perda no mês estava em quase 4%. Os números sobre a movimentação de estrangeiros têm defasagem de dois pregões.

De acordo com o gestor Ricardo Campos, sócio-fundador da Reach Capital, se em setembro observou-se uma aproximação entre Donald Trump e Xi Jinping, combinada com o andamento da reforma da Previdência, calmaria no panorama político do Brasil e bons dados econômicos do país, em outubro esse cenário mudou.

"Tivemos uma 'escassez' de informações da China devido ao feriado naquele país na semana passada gerando assim um vácuo para possíveis novos focos de problemas envolvendo o presidente Trump, como o inquérito de impeachment, além de dados alemães decepcionantes , questões relacionadas ao Brexit... Tudo atrelado a um cenário com atraso na reforma da Previdência", ilustrou.

Na visão de Campos, todos esses eventos geraram "um turbilhão de incertezas", o que afasta os estrangeiros, que já estão em modo 'risk off'. "Mesmo que os fundamentos da economia brasileira estejam se mostrando mais sólidos e a retomada da economia vindo aos poucos, os estrangeiros não se atrevem a alocar capital com tamanha incerteza ocorrendo."

A equipe da XP Investimentos também ressaltou a semana conturbada experimentada pelo cenário político brasileiro.

Eles destacaram que o Senado aprovou em primeiro turno a reforma da Previdência, após adiamento e incertezas com relação a sua potencial desidratação, mas o noticiário mostrando falta de articulação para a divisão dos recursos do megaleilão do petróleo previsto para novembro pode prejudicar o seu andamento.