Com funcionários nervosos e sem bancos, empresas ocidentais tentam sair da Rússia

Reuters

Publicado 04.07.2022 13:05

Atualizado 04.07.2022 14:05

Por Essi Lehto e Anne Kauranen

HELSINQUE (Reuters) - Para as empresas estrangeiras que ainda estão decidindo o que fazer com seus ativos russos ociosos, a apreensão de um grande projeto de petróleo e gás pelo presidente Vladimir Putin é um alerta poderoso: vá rápido, senão...

As empresas têm enfrentado dificuldades para encontrarem formas de sair do mercado russo e limitarem o impacto financeiro, sem colocarem funcionários em risco e, em alguns casos, deixando aberta a possibilidade de retornarem no futuro.

Quando os governos ocidentais começaram a aplicar sanções à Rússia após a invasão da Ucrânia no final de fevereiro, o presidente-executivo da empresa finlandesa de alimentos Paulig, Rolf Ladau, percebeu que o negócio de torrefação de café não era mais viável.

O café não estava nas listas de sanções, mas era quase impossível levar grãos para a Rússia, pois as empresas de transporte pararam de atuar no país e pagar em rublos estava ficando mais difícil.

Duas semanas depois do conflito, Ladau decidiu que a empresa iria embora do país e, dois meses depois, fez o que geralmente leva um ano - encontrar um comprador adequado para os ativos e selar um acordo. Em maio, a Paulig vendeu seus negócios russos ao investidor privado indiano Vikas Soi.

Mais de mil empresas ocidentais aderiram a um êxodo corporativo da Rússia - sem precedentes em sua escala e velocidade - enquanto lutam para cumprir as sanções e em meio a ameaças de retaliação do Kremlin.

Mais de 1.000 empresas do Ocidente aderiram a um êxodo corporativo da Rússia, sem precedentes na escala e na velocidade, forçadas pelas sanções e em meio a ameaças de retaliação pelo Kremlin.

Mas a Paulig fez parte de um número relativamente pequeno de empresas que vendeu ativos ou entregou as chaves a gerentes locais. Uma contagem da Reuters mostra que menos de 40 empresas, incluindo McDonald's, Société Générale (EPA:SOGN) e Renault (EPA:RENA), anunciaram negócios.

Os obstáculos são enormes: a confusão pairou sobre o que o Kremlin permite que as empresas estrangeiras podem fazer; os funcionários estão nervosos após as ameaças de retaliação do governo russo; as sanções limitaram o conjunto de compradores e há pouco tempo para analisá-los; os preços de venda foram fortemente descontados; e as negociações estão sendo feitas virtualmente porque o medo de represálias torna muito arriscado visitar a Rússia pessoalmente.

Com Moscou preparando uma nova lei que deve entrar em vigor em breve, permitindo que o governo assuma o controle dos negócios locais de empresas ocidentais que decidirem sair do país, os riscos estão aumentando.

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"Se você ainda não iniciou o processo ou se ainda tem dúvidas sobre isso, vai ficar mais difícil", disse Ladau à Reuters, falando antes da investida de Putin no projeto de petróleo e gás de Sakhalin.

"A Rússia não tem interesse em deixar empresas estrangeiras saírem facilmente do mercado."

SEM PROJETOS

Muitas empresas ocidentais tiveram problemas ao tentar sair: o Burger King (BVMF:BKBR3) interrompeu o suporte corporativo para suas lojas na Rússia em março, mas as cerca de 800 lojas da rede de fast-food ainda estão abertas. Os advogados dizem que parte do problema é a complexidade de seu acordo de franquia no estilo joint venture.

O UniCredit (BIT:CRDI) alienou alguns ativos por meio de swaps, mas teve que ampliar a busca de potenciais compradores para países como Índia, Turquia e China.

Quatro meses depois, há poucos sinais de que as empresas encontraram um plano para deixarem o país.

A Renault vendeu sua parte de uma lucrativa joint venture para o Estado russo por um rublo; O McDonald's entregou 800 lojas a um empresário siberiano por uma quantia simbólica; ambos concordaram com cláusulas de recompra.

O SocGen vendeu sua unidade do Rosbank para a Interros Capital, empresa ligada ao oligarca russo Vladimir Potanin.

Muitas empresas deram as chaves aos administradores locais e quase todas registraram baixas contábeis pesadas, totalizando dezenas de bilhões de dólares.

Especialistas dizem que o trabalho dos novos proprietários será difícil em uma Rússia cada vez mais isolada, sem acesso a produtos ocidentais, com aumento do custo de tudo, de alimentos a energia, e a economia mergulhada em recessão.

Ainda assim, o êxodo proporcionou um ganho para empresas e empresários na Rússia e países fora das sanções, à medida que compram ativos valiosos por uma pechincha.

SEM BANQUEIROS

Um aspecto do êxodo destaca sua natureza incomum: a ausência de banqueiros que normalmente desempenhariam um papel fundamental nos negócios.

Fontes dizem que os bancos se afastaram devido a preocupações com violação de sanções.

Em vez disso, as empresas estão contando com advogados na Rússia e consultores internacionais com conhecimento do país para encontrarem e vetarem pretendentes - certificando-se de que sejam legítimos, não estejam em listas de sanções e tenham credenciais financeiras.

A empresa de alimentos finlandesa de propriedade privada Fazer assinou um acordo no início de abril, vendendo seu negócio de panificação para a rival Kolomenskij Bakery and Confectionery Holding, com sede em Moscou.