Conselho da Vale está dividido sobre futuro da liderança

Reuters

Publicado 16.02.2024 15:32

Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Uma reunião do conselho da Vale (BVMF:VALE3) na véspera terminou em um impasse, com os membros divididos sobre renovar ou não o mandato de CEO de Eduardo Bartolomeo, após o governo ter demonstrado insatisfação com os rumos da mineradora e ter dado sinais de que buscaria influenciar na escolha de um novo executivo.

Dos 13 membros do colegiado, seis votaram a favor da recondução de Eduardo Bartolomeo, cujo mandado de CEO termina em 26 de maio, outros seis votaram a favor da abertura de processo de sucessão e um último voto optou pela abstenção, segundo duas fontes com conhecimento do tema, que falaram na condição de anonimato.

"Houve um empate em seis a seis na reunião do conselho, e não há uma data para nova deliberação. Independentes e japoneses (conselheiros que integram o bloco no qual está a sócia Mitsui) estão a favor (do Bartolomeo). O que se tem agora é um impasse", afirmou uma das fontes.

A fonte acrescentou que resolver este impasse será desafiador.

O voto de abstenção foi de Luis Henrique Guimarães, indicado pela Cosan (BVMF:CSAN3) -- acionista relevante da Vale -- no conselho e considerado nos bastidores como um dos candidatos à presidência da Vale. Guimarães foi CEO da Cosan, onde permanece como conselheiro.

Na véspera, a Vale informou em nota à imprensa que a reunião extraordinária terminou "de forma inconclusiva" e que o colegiado voltará a se reunir "nos próximos dias" em busca de uma definição sobre o processo de sucessão ou renovação de seu presidente, Eduardo Bartolomeo.

As ações da companhia operavam em alta de mais de 3,50% na tarde de sexta-feira, enquanto o Ibovespa tinha ganho de 0,6%, por volta das 15h20.

O conselho da Vale tem competência exclusiva para decidir sobre a escolha do presidente da companhia. No entanto, nos bastidores, o governo federal vem buscando meios de influenciar na escolha.

No início do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou emplacar seu ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na liderança da Vale, conforme a Reuters publicou na ocasião com fonte próxima do assunto, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu publicamente as qualificações dele para ocupar um cargo na empresa.

No fim do mês passado, porém, Silveira recuou e negou que o presidente tenha tratado sobre sucessão na Vale e afirmou que Lula "nunca" se disporia a fazer interferência em uma empresa com capital aberto.

Lula, por sua vez, vem fazendo críticas públicas à atuação da Vale nos trabalhos de reparação e compensação pelos rompimentos de barragens da Samarco -- joint venture da Vale com a BHP -- e da própria Vale, em 2015 e 2019, respectivamente.

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Mas, nos bastidores, o que se fala é que Lula gostaria de um presidente que tivesse maior interlocução com o governo.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a substituição de Bartolomeo ganhou apoio dos dois conselheiros indicados pela Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil (BVMF:BBAS3)), Daniel Stieler e João Luiz Fukunaga, e pelo indicado pelo Bradesco (BVMF:BBDC4), Fernando Jorge Buso Gomes.

TRAJETÓRIA DO CEO

Bartolomeo assumiu a presidência da Vale primeiramente de forma interina em 2019, deixando o cargo de diretor de Metais Básicos da empresa, no Canadá, após afastamento do então presidente Fabio Schvartsman, que liderava a companhia quando houve o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em janeiro daquele ano.

Bartolomeo foi eleito em seguida definitivamente pelo conselho como CEO, a partir de uma lista preparada pela empresa internacional de seleção de executivos, Spencer Stuart, em conformidade com a governança da companhia.

O mandato de Bartolomeo ficou marcado pela busca por maior segurança nas instalações da companhia, com um plano para o descomissionamento de barragens de maior risco, além de um trabalho para a reparação de danos.