Eleições nos EUA: entenda como diferentes cenários afetam o Brasil e o Ibovespa

Investing.com

Publicado 23.10.2020 19:13

Atualizado 23.10.2020 19:57

Por Ana Julia Mezzadri

Investing.com - As eleições presidenciais dos EUA, que serão realizadas em 3 de novembro, são observadas por todo o mundo, pois causam impacto em todos os mercados - e no Brasil não é diferente. E este ciclo eleitoral não se resume apenas à disputa entre o atual ocupante da Casa Branca, o republicano Donald Trump, e o democrata Joe Biden, mas também a vagas na Câmara dos Representantes e do Senado, atualmente com maioria democrata e republicana, respectivamente. 

Trump, que era o favorito até o início de 2020, foi prejudicado pelos efeitos da pandemia de Covid-19 na saúde e na economia, além de uma percepção negativa sobre algumas atitudes do presidente ao lidar com a crise sanitária. Desde então, Biden assumiu a liderança nas pesquisas.

Há quatro possíveis cenários para essas eleições: chamada onda azul, com vitória de Biden e do Partido Democrata na Câmara e no Senado; a vitória de Biden com Câmara e Senado divididos; a vitória de Trump com os democratas liderando o Congresso; e a “onda vermelha”, com vitória de Trump e republicanos no Congresso.

Ainda que haja consenso sobre o fato de Biden ser o candidato mais provável, os analistas ainda se dividem sobre o resultado das eleições da Câmara e do Senado. 

Em uma análise de 17 de outubro, a XP considerou como mais provável a eleição de Joe Biden com Congresso dividido. Esse resultado, segundo a corretora, deve ser positivo para os investimentos, “já que as propostas mais arrojadas de Joe Biden teriam que ser negociadas e moderadas para ser aprovadas.”

Nesse cenário, a projeção da XP é que o S&P 500 fique em torno de 3.550 pontos e o Ibovespa em 115 mil pontos ao fim de 2020. A taxa de câmbio, segundo a XP, também deve ser pouco impactada, com projeção de R$ 5,20 por dólar.

Já o cenário eleição de Biden com Senado democrata, considerado pelo BB-BI e outros analistas ouvidos pelo Investing.com Brasil como o mais provável, é considerado pela XP como o mais adverso para os mercados. Isso porque, nesse cenário, Biden encontraria pouca resistência a suas propostas, que incluem aumentos de tributos, regulação antitruste mais agressiva e controle dos preços dos medicamentos. Nesse sentido, as empresas que mais sofreriam, na visão da XP, seriam as do setor farmacêutico e de petróleo e gás. 

A projeção da XP para esse cenário é que o S&P 500 caia até 2.900 pontos até o final do ano e o Ibovespa fique entre 90-93 mil pontos. Para o dólar, a projeção é de até R$ 5,36 até o final do ano.

Segundo Paulo Clini, CIO da Western Asset, a agenda dos democratas, que propõe aumento de impostos ao longo do tempo e a regulamentação principalmente das big techs, deve ter impacto negativo sobre o crescimento econômico norte-americano e sobre o resto do mundo. “Então, inicialmente, o mercado tinha essa preocupação com a onda azul, porque os democratas teriam liberdade de implementar essa agenda”, explica. Ainda que a discussão continue presente para o médio e longo prazo, grande parte do mercado agora vê com bons olhos o fato de uma onda azul dever facilitar a aprovação de um pacote fiscal grande.

Henrique Tomaz, economista sênior do BB-BI, por sua vez, acredita que nesse cenário a inflação e os juros norte-americanos devem subir em relação ao patamar atual, e isso deve afetar a taxa Selic. 

Na visão de Étore Sanchez, economista chefe da Ativa Investimentos, Joe Biden é um melhor candidato para o Brasil do que o Trump, pois haveria menor tensionamento das relações internacionais, mesmo em caso de onda azul. “Sabemos que o tensionamento gerado por Trump ao longo de 2019 que ensejou numa desvalorização das moedas em detrimento do dólar deve ser mitigado em 2021 caso Biden seja eleito”, explica. “Esse enfraquecimento do dólar pode causar um fortalecimento dos emergentes, e o Brasil entra nesse embalo.”. 

Em termos de bolsa de valores, Tomaz tem uma opinião diferente da XP: na sua análise, o cenário é neutro, pois a elevação de impostos, que seria ruim, deve ser contrabalanceada pelos pacotes de estímulo, que serão aprovados mais facilmente em um cenário de onda azul. 

Étore acredita que o fato de Biden ser menos fiscalista do que Trump pode não ser tão positivo para a bolsa dos EUA, o que deve ter reflexos no Brasil. Porém, na sua opinião, ainda que a reversão da política de impostos colocada por Trump possa gerar dano líquido para as ações, tudo isso já está considerado pelo mercado. Além disso, os novos pacotes fiscais tendem a levar a uma busca por alocações de maior risco e lucros maiores para as empresas.

Outro ponto importante é que o partido democrata tem reconhecidamente uma forte preocupação com políticas ambientais, e Biden já demonstrou, no primeiro debate pré-eleitoral, que tem intenção de endurecer a pressão sobre o Brasil nesse âmbito. Ainda que o governo brasileiro possa não ceder à pressão, empresas que não tenham diretrizes ESG como prioridade podem sofrer sanções e boicotes. Por isso, no caso de uma vitória de Biden, sobretudo com democratas no Congresso, investimentos em empresas como Lojas Renner (SA:LREN3), Natura (SA:NTCO3), Banco Bradesco (SA:BBDC4), Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Santander Brasil (SA:SANB11), Suzano (SA:SUZB3), Klabin (SA:KLBN11), M. Dias Branco (SA:MDIA3), Localiza (SA:RENT3), Sabesp (SA:SBSP3) e Weg (SA:WEGE3) podem ser uma boa escolha, segundo Tomaz.

No caso da vitória de Biden, Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos, acredita que se tornaria muito difícil para o Brasil justificar a política ambiental do governo atual.

Para Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos, a vitória de Biden deve ser positiva para o Brasil sobretudo pela política externa. “Hoje o Brasil está se isolando com os Estados Unidos em relação ao restante do mundo, pela postura parecida do presidente do Brasil e do americano. Eu acho que a vitória de Biden, mais diplomático, deve forçar o Brasil a uma mudança de postura”, explica. Para Cavalheiro, Biden deverá tentar se aproximar da Europa, da América Latina e do Canadá, entre outros, para fazer frente à China.

Como consequência para o Brasil, Cavalheiro acredita que a indústria pode se beneficiar, recebendo negócios que anteriormente seriam implantados na China.

Há ainda o cenário de eleição de Donald Trump com o Congresso dividido. Segundo Tomaz, o cenário não deve trazer grandes mudanças, visto que é o atual. “A expectativa vai ser positiva para o setor bancário e de óleo e gás, que hoje estão sendo pressionados pela expectativa maior de vitória de Biden, assim como tecnologia e companhias aéreas”, completa. 

Zogbi acredita que a abordagem mais protecionista de Trump deva fazer com que o candidato volte a tentar fortalecer o dólar, o que pode impactar o mercado negativamente. No entanto, ela defende que os efeitos devam ser marginais, pois o dólar já está forte. Além disso, o cenário de uma vitória de Trump é o que o mercado mais conhece, então gera menos incerteza.

Finalmente, há o cenário em que Trump ganharia com controle de todo o congresso, que é o menos esperado. Nesse caso, é esperada menos moderação. “Trump tem uma plataforma de alívio de impostos, então talvez haja subsídios e redução de impostos em alguns segmentos, o que deve ser positivo no curto prazo”, diz Tomaz. Nesse caso, assim como no caso de onda azul, espera-se que o déficit aumente, diz.

Tomaz aponta ainda um último cenário que, na sua visão, seria o pior de todos: o de uma vitória apertada para cada um dos lados abrindo espaço para a contestação desse resultado. Nesse caso, a volatilidade deve imperar, com queda na bolsa e alta nos juros. “Nesse caso a melhor opção seria se proteger comprando ativos atrelados ao câmbio, BDRs ou o próprio dólar, para poder se beneficiar dessa possível elevação do câmbio”, diz.

Para Zogbi, é importante entender que os efeitos devem ser mais intensos no curto prazo, independentemente do resultado. “Na nossa visão, se não tiver uma disputa que se estenda além da data de posse, a tendência é que ao longo do tempo a bolsa suba com o crescimento da economia, que é o que costuma acontecer depois de todas as eleições”, explica. 

A analista acredita que as eleições devam trazer incerteza e volatilidade ao Ibovespa, mas sem grandes mudanças no longo prazo. Assim, independentemente do resultado, ela defende que é fundamental para o investidor proteger sua carteira, pois o cenário pode mudar.

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