Elétricas trocam equipamento da GE na rede de transmissão em meio a risco de explosões

Reuters

Publicado 01.07.2019 17:03

Elétricas trocam equipamento da GE na rede de transmissão em meio a risco de explosões

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - Empresas de transmissão de energia no Brasil estão iniciando processos para substituir centenas de unidades de um equipamento da norte-americana GE (N:GE) em suas redes, após um órgão técnico do setor elétrico ter recomendado as trocas por identificar um número atípico de explosões do produto.

O pedido do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), no início do ano, veio depois de registrados 53 casos de explosões de transformadores de corrente do modelo CTH-550 com determinados padrões de fabricação (R6 e R7), uma "concentração de ocorrências" que levou a um estudo detalhado sobre os incidentes.

As trocas deverão movimentar a indústria fornecedora nos próximos anos, com algumas grandes empresas já abrindo licitação para as compras, ao mesmo tempo em que elétricas e a fabricante seguem em negociações sobre como tratar prejuízos decorrentes das falhas.

O diagnóstico do ONS apontou que pode haver até mais de 660 transformadores desse modelo na rede brasileira. Cada equipamento custa entre 50 mil e 100 mil reais, de acordo com uma fonte da indústria.

"Em última análise, identificou-se que é de fato um problema do fabricante. As concessionárias adquiriram um produto que aparentemente, segundo os relatórios, possui alta taxa de falhas", disse à Reuters o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa.

A transmissora Taesa (SA:TAEE11), controlada pela estatal mineira Cemig (SA:CMIG4) e pela colombiana ISA (CN:ISA), iniciou processo para trocar todos os TCs do modelo em sua rede, disse à Reuters o presidente da companhia, Raul Lycurgo Leite, que prevê a conclusão do trabalho até o final de 2020.

"Não é um equipamento de prateleira", explicou o executivo, destacando que as manobras para troca também exigem combinação prévia com o ONS para evitar transtornos na operação do sistema elétrico.

Antes mesmo disso, acrescentou ele, a Taesa isolou em suas subestações a área em que ficam os equipamentos, com uma sinalização laranja para que funcionários mantenham-se afastados devido ao risco de explosão.

"Não chega a ser um equipamento tão caro dado o tamanho das empresas de energia. O risco que ele pode gerar sem ser trocado é infinitamente maior", afirmou.

Ainda assim, a Taesa e outras elétricas têm mantido conversas com a fabricante GE e com a Aneel para avaliar eventuais meios de reduzir os prejuízos com essas substituições.

A elétrica Furnas, da estatal Eletrobras (SA:ELET6), já abriu uma licitação para a compra de novos TCs, com previsão de concluir as trocas também até o final do próximo ano, disse a empresa em nota à Reuters.

Em paralelo, a estatal disse que "solicitou à GE a substituição das unidades do referido modelo e está em tratativas com a empresa".

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

"Para garantir a manutenção e confiabilidade de suas instalações, e atendendo à recomendação do ONS, Furnas decidiu substituir todos os TCs do modelo CTH 550 R6 e R7 que existem em suas instalações", afirmou.

A chinesa State Grid [STGRD.UL], que tem grande presença no setor de transmissão do Brasil, também confirmou à Reuters que foi afetada e está tomando providências "junto a outras empresas do setor".

"A State Grid é signatária de uma carta que está com a Aneel, na qual se comprometeu com a substituição dos transformadores", afirmou a empresa em nota.

A estatal paranaense Copel (SA:CPLE6), por sua vez, irá substituir os TCs "de forma escalonada, entre 2020 e 2022", com a escolha dos novos equipamentos por meio de licitação pública.

"Houve alguns contatos com a GE, de viés técnico, a respeito dos casos de explosões", acrescentou a companhia, sem detalhar.

Procurada, a GE disse que ainda está trabalhando para entender a "causa raiz" do problema nos TCs e em conversas para definir os próximos passos em relação a seus clientes.

"A GE Grid Solutions realizou inúmeras investigações internas de seus equipamentos junto aos seus clientes e, até o momento, não há evidências de que os incidentes tenham sido causados ​​pelo design, componentes ou processos de fabricação do produto em questão", afirmou, em nota.

"Qualidade do produto e segurança das pessoas são prioridades para a GE, e levamos muito a sério qualquer relato de incidentes com equipamentos. Continuamos a trabalhar minuciosamente com nossos clientes e com os principais órgãos governamentais brasileiros para determinar a causa raiz do problema, incluindo condições operacionais de rede", acrescentou.

PREJUÍZOS

Em meio ao processo já iniciado para as substituições dos equipamentos e às conversas com a GE, as elétricas também têm tentado convencer a Aneel a isentá-las de perdas financeiras devido à saída de operação de suas instalações após as explosões ou durante as substituições.

A disponibilidade das instalações é um fator crucial para a rentabilidade das empresas de transmissão, e a saída de uma subestação ou linha de operação mesmo que por momentos breves pode corroer significativamente os ganhos das empresas, disse o presidente da Taesa.

Furnas disse que pediu à Aneel uma isenção da aplicação desses descontos, conhecidos como Parcela Variável por Indisponibilidade (PVI) "em razão do eventos relacionados a incidentes com os referidos TCs e aguarda a decisão".

De acordo com Sandoval Feitosa, diretor da agência, deverá haver um tratamento especial para a troca dos transformadores de corrente, mas não para os casos em que já foram registradas os incidentes.