Espresso Financista: Incertezas políticas atormentam mercado em dia de dados fiscais

O governo interino de Michel Temer perdeu seu segundo ministro em apenas 19 dias de mandato. Nos dois casos, gravações de comentários sobre a Lava Jato foram responsáveis por derrubar os ministros. Mercado gosta de saber onde está pisando e os imponderáveis desdobramentos da Lava Jato, que persistem a despeito da troca na Presidência, preocupam.

O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, anunciou que deixaria o cargo na noite de segunda-feira (30). Nas gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, Silveira faz críticas à operação Lava Jato e orienta Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a evitar problemas.

Diante da situação delicada, a base aliada do governo peemedebista tem pressionado Temer a fazer uma faxina geral na composição da Esplanada dos Ministérios. “Diante da possibilidade de que Silveira deixaria a pasta, aliados sugeriram uma saída conjunta”, explicou interlocutor do presidente em exercício a O Financista.

“Eles diziam que Temer deveria aproveitar a possível saída de Silveira para sugerir que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, saia logo também, já que ele estaria implicado em vários esquemas”, completou.

Mesmo fora do governo, Silveira pode continuar causando problemas para Temer. O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abre hoje uma investigação prévia para analisar se Silveira utilizou seu cargo de conselheiro do órgão – que exerceu de 2013 e 2016 – para favorecer interesses privados, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

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A crise política que se alastra no governo Temer em tão poucos dias de mandato pode encurtar sua gestão. Segundo o jornal O Globo, Acir Gurgacz (PDT-RO) e Romário (PSB-RJ), senadores que votaram a favor da abertura do processo de impeachment, já admitem a possibilidade de mudarem seus votos em relação ao afastamento da presidente Dilma Rousseff.

Tal virada, junto com a manutenção dos demais votos contrários seria suficiente para barrar o impedimento definitivo de Dilma, permitindo que ela volte a exercer o mandato.

A crise política pode ganhar novos temperos com a oficialização das negociações de delação premiada e de leniência entre a Odebrecht e o Ministério Público Federal em documento assinado na quarta-feira passada (25).

Segundo a colunista Mônica Bergamo, da Folha, a empreiteira se comprometeu a detalhar o financiamento de todas as campanhas que participou recentemente como a da presidente afastada Dilma Rousseff e do senador Aécio Neves para presidente da República em 2014. Procuradores também negociam acesso à contabilidade da Odebrecht, o que pode envolver centenas de políticos.

Enquanto isso, o ambiente internacional volta à cena com mais força após o feriado nos Estados Unidos, elevando o volume de negócios por aqui. As bolsas chinesas registraram seu maior ganho diário em três meses.

As bolsas europeias recuam e os índices futuros norte-americanos oscilam próximo da estabilidade. Os preços do petróleo operam sem direção definida nos mercados de Londres e Nova York.

Os investidores também aguardam novos sinais sobre a aceitação no Congresso das medidas econômicas propostas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Aprovar a meta fiscal era fácil. Agora os desafios estão na aprovação do teto de gastos públicos e da reforma da Previdência. Essas votações serão o termômetro da força do governo no Congresso”, avalia a equipe da Lerosa Investimentos.

Na agenda local, destaque para o resultado primário do setor público de abril, que será divulgado às 10h30 e para o fechamento da Ptax do mês de maio.

“Cautela com o cenário político por causa da Lava Jato pode prejudicar as ações e o real”, avalia a LCA Consultores.

No exterior será divulgado o dado de gasto e renda dos Estados Unidos, às 9h30 (horário de Brasília). Dados positivos podem respaldar o cenário de alta de juros nos próximos meses. A confiança do consumidor norte-americano de maio sairá às 11h.

Novo BC – A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprecia a indicação de Ilan Goldfajn para presidente do Banco Central. A sabatina do executivo está marcada para amanhã (1).

A hora e a vez de Cunha – O relator do processo no Conselho de Ética contra o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado Marcos Rogério (DEM-RO), informou que vai entregar seu parecer nesta terça-feira (31) ao presidente do colegiado, deputado José Carlos Araújo (PR-BA). Segundo Rogério, 24 horas após a entrega do relatório final, que pode pedir a cassação do mandato de Cunha, o presidente do colegiado deve convocar uma reunião para leitura do parecer.

Agenda cheia – A agenda do presidente interino Michel Temer prevê reunião com o ministro das Cidades, Bruno Araújo, o presidente da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, com o senador João Alberto Souza e com o presidente do Instituto Brasileiro de Direito Administrativo (IBDA), Valmir Pontes Filho.

Luz para todos – O plenário do Senado tem na pauta três medidas provisórias. A MP 706/15, que prorroga contratos do setor elétrico; a MP 712/16, que trata de medidas de combate ao mosquito Aedes aegypti; e a MP 708/2015, que reincorpora trechos de rodovias federais à União. As duas primeiras MPs precisam ser votadas até esta terça-feira (31) para que não percam a validade.

Atrasado – O CMN (Conselho Monetário Nacional) se reúne nesta terça-feira (31), segundo a agenda do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e da diretoria do Banco Central, que participam da reunião. O colegiado costuma se reunir na última quinta-feira de cada mês. A última quinta-feira, porém, foi feriado nacional.

Em defesa da Previdência – A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado realiza audiência pública sobre a Previdência Social no Brasil. Na programação constam o Lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social, às 11 horas, e mesa de convidados a partir das 14 horas.

Oficial - O executivo e ex-ministro Pedro Parente foi nomeado presidente da Petrobras (SA:PETR4) e membro do Conselho de Administração da estatal nesta segunda-feira, após a renúncia de Aldemir Bendine do posto.

Estreia - A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicados de funcionários da Petrobras indicaram paralisação das atividades por 24 horas em 10 de junho, no que seria a primeira mobilização contra o governo do presidente interino Michel Temer.

Inflação global - A Fibria (SA:FIBR3) informou que vai aumentar os preços da celulose a partir de 1º de junho. Os preços subirão para US$ 710 a tonelada na Europa, US$ 870 na América do Norte e US$ 550 na Ásia. As rivais Eldorado Brasil e Suzano Papel e Celulose (SA:SUZB5) anunciaram aumentos na semana passada.

Outro pato - A Medida Provisória 706/15, que será apreciada na terça-feira (31) pelo Senado, poderá jogar para o Tesouro e para os consumidores custos bilionários decorrentes de ineficiências e dívidas de distribuidoras da Eletrobras (SA:ELET3) e outras elétricas estatais da região Norte, alertaram especialistas.

Turbulento - A Latam Airlines, dona da TAM, suspendeu temporariamente seus voos com destino e saindo de Caracas, na Venezuela, devido ao complexo momento econômico na região, que motivou um ajuste em suas operações.

Crise tipo exportação – A Justiça dos Estados Unidos reconheceu os efeitos do pedido de recuperação judicial da Lupatech (SA:LUPA3) naquele país. Na prática, isso significa que a empresa está protegida pela lei por lá também.

Mercado aguarda medidas de curto prazo para calibrar apostas em resultado fiscal. O otimismo do mercado com a mudança na Presidência fez preço antes mesmo de Michel Temer assumir o cargo interinamente. Apenas algumas faíscas de retorno da confiança foram suficientes para desvalorizar o dólar, reduzir as estimativas para os juros e elevar as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2017. Veja mais na reportagem de Weruska Goeking, de O Financista.