Frigoríficos enfrentam demanda reduzida da China em meio ao coronavírus

Reuters

Publicado 27.02.2020 17:44

SÃO PAULO (Reuters) - As importações de carne bovina pela China vão recuar no primeiro semestre de 2020 devido à epidemia de coronavírus, que está afetando a circulação de pessoas e o comércio em todo o mundo, disse o Rabobank em relatório divulgado nesta quinta-feira.

A situação pode reprimir a bonança verificada nas exportações de carnes do Brasil recentemente, uma vez que frigoríficos locais estiveram entre os principais beneficiados pela demanda adicional da China por importações de alimentos, depois de a peste suína africana atingir a oferta de carne do país asiático desde meados de 2018.

O banco afirmou que amplos estoques chineses de carne bovina congelada, armazenados em mercados locais em meio aos preparativos para o feriado do Ano Novo Lunar, não foram consumidos em janeiro por causa do coronavírus, que levou ao fechamento de restaurantes no país.

Alguns deles, segundo o Rabobank, podem permanecer fechados até março, já que muitas pessoas continuam evitando refeições fora de casa.

"Restaurantes de serviço rápido podem ser os menos impactados, enquanto restaurantes 'hotpot' e de serviços completos sofrerão uma queda acentuada nas vendas no primeiro semestre", disse o relatório.

Citando incertezas sobre se o coronavírus pode ser contido ainda no primeiro trimestre, o Rabobank mencionou a possibilidade da indústria de restaurantes e turismo continuarem estagnadas até abril ou maio.

"Os menores volumes de vendas significam que a demanda por carne bovina será mais fraca do que em anos normais no primeiro semestre", apontou o banco.

As exportações de carne bovina do Brasil atingiram uma receita recorde de 7,5 bilhões de dólares em 2019, guiadas pela forte demanda chinesa, que representou 26,6% do volume exportado por frigoríficos locais, de acordo com dados compilados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

Se contabilizadas as vendas para Hong Kong, o volume salta para 45%.

Minerva (SA:BEEF3), JBS (SA:JBSS3) e Marfrig (SA:MRFG3) estão entre alguns dos principais exportadores de carne bovina do Brasil.

Ainda assim, depois de um 2019 marcado por recordes de exportações e preços, a indústria brasileira de carne bovina "está experimentando um momento de rebalanceamento de oferta e demanda", afirmou o Rabobank.

O Brasil registrou máximas recordes de preços no final do ano passado devido às fortes exportações do produto, o que causou retração no mercado interno. Enquanto isso, a temporada de chuvas gerou o crescimento das pastagens, o que reduz os custos de produção, mas limita a oferta de animais enviados para o abate, disse a instituição.

"Com o consumo doméstico (do Brasil) ainda considerado fraco e a China reduzindo compras devido ao coronavírus, abatedouros não estão dispostos a pagar preços mais altos para atrair volumes maiores", acrescentou o Rabobank.