Ibovespa crava 12ª queda seguida com ata do Fed; Petrobras sobe

Reuters

Publicado 16.08.2023 17:07

Atualizado 16.08.2023 18:00

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa morreu na praia mais uma vez e fechou em baixa nesta quarta-feira pelo 12º pregão consecutivo, com o declínio das ações de Eletrobras, Weg e Natura&Co (BVMF:NTCO3) respondendo pelas principais pressões de baixa, enquanto a alta dos papéis da Petrobras evitou um declínio maior.

A ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do banco central dos Estados Unidos foi a vilã do dia, uma vez que o documento mostrou que a maioria dos participantes continuou a ver riscos significativos de alta para a inflação, "o que pode exigir mais aperto da política monetária".

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,5%, a 115.591,52 pontos, ampliando para 5,21% o declínio em agosto -- mês em que não fechou no azul em nenhuma sessão. Até 1982, não houve nenhuma série com 12 fechamentos negativos do Ibovespa, conforme dados da Refinitiv.

"Não temos registro de nenhuma sequência de 12 quedas consecutivas do Ibovespa desde 1980", acrescentou Einar Rivero, gerente comercial da TradeMap

Na máxima desta quarta-feira, o Ibovespa chegou a 117.337,65 pontos. Na mínima, a 115.533,58 pontos. O volume financeiro no pregão alcançou 48,77 bilhões de reais, em sessão também marcada pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa e do índice futuro.

Pouco antes da divulgação da ata do Fomc, o Ibovespa ainda trabalhava no território positivo (+0,35), mas não se sustentou conforme Wall Street também enfraqueceu, em meio à avaliação de que o documento indicou risco de mais aperto monetário.

A ata, referente à decisão do Federal Reserve de elevar a taxa de juros para um intervalo entre 5,25% e 5,5% no final do mês passado, mostrou as autoridades divididas quanto à necessidade de mais aumentos, mas com "a maioria" considerando o combate à inflação como sua principal prioridade.

Além disso, mostrou que "a maioria dos participantes continuou a ver riscos significativos de alta para a inflação, o que pode exigir mais aperto da política monetária".

"Apesar das ponderações sobre opiniões divergentes em favor do final do ciclo, as preocupações com a permanência de desequilíbrios são claras na ata e, no final das contas, existe o reconhecimento de que a batalha contra a inflação alta ainda não terminou", disse o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori.

Ele acrescentou que há uma chance real de que haja uma pausa nos aumentos em setembro, mas se isso significará o encerramento do ciclo -- ou não -- ainda está totalmente em aberto.

Para o economista-sênior do Inter, André Cordeiro, a ata indicou que os próximos passos do Fed são incertos e dependerão dos dados econômicos. Ele ressaltou que antes da próxima decisão haverá a divulgação de emprego e da inflação de agosto nos EUA, que serão essenciais para a reação do BC norte-americano.

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Ele acrescentou ver a tendência de desinflação se manter, mas que o mercado de trabalho continua muito apertado e os dados de atividade têm mostrando uma forte retomada. "Não se pode descartar a possibilidade de uma nova aceleração da inflação, o que pode levar a novas altas" dos juros nas próximas reuniões.

Em Wall Street, o S&P 500 fechou em baixa de 0,76%, tendo ainda como pano de fundo novos dados que continuaram a apontar para uma força persistente na economia dos EUA, com um salto na construção de residências unifamiliares em julho e um crescimento maior do que o esperado na produção industrial.

No Brasil, agentes financeiros também continuaram ajustando posições e modelos com o término da temporada de resultados corporativos do segundo trimestre, que refletiu os efeitos da atividade econômica local ainda fraca, juros altos e pressões inflacionárias, combinadas com a baixa de preços de commodities.

De acordo com cálculos da equipe do Safra, considerando as empresas sob sua cobertura, os lucros caíram de 37,4% no segundo trimestre na comparação ano a ano, enquanto houve contração de 4,4% na receita e de 23,1% no Ebitda.

h2 Destaques/h2

- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) valorizou-se 2,2%, a 31,54 reais, ainda refletindo a decisão da companhia de aumentar os preços dos combustíveis, anunciada na véspera. O presidente da Petrobras também afirmou em entrevista na noite da véspera que a empresa, de controle estatal, não foi pressionada pelo governo federal a se abster de aumentar os preços locais dos combustíveis. Nesta quarta-feira, Jean Paul Prates também disse que a companhia não repetirá erros do passado relacionados a preços de combustíveis e contratações de obras. No exterior, os preços do petróleo recuaram.

- NATURA&CO ON (BVMF:NTCO3) caiu 8,9%, a 16,48 reais, após a fabricante de cosméticos fornecer mais detalhes sobre a integração entre as marcas Natura e Avon na América Latina, processo chamado de Onda 2, apresentando resultados iniciais no Peru e na Côlombia e expectativas sobre o Brasil. A companhia, contudo, não apresentou previsão de margem Ebitda para a região, enquanto indicou problemas de curto prazo relacionados à integração na região. Analistas também citaram que a empresa não divulgou um valor específico para os custos de integração. Na véspera, as ações fecharam em alta de 5,48%, após a divulgação do balanço do segundo trimestre na noite de segunda-feira.

- ELETROBRAS ON (BVMF:ELET3) fechou em baixa de 3,56%, a 33,9 reais, ainda pressionada por receios após a renúncia repentina de Wilson Ferreira Junior ao cargo de presidente da companhia. Para seu lugar, foi eleito Ivan de Souza Monteiro. Para analistas, a saída de Ferreira Jr., em uma ação inesperada e com motivação não muito clara, deve pesar sobre os papéis da companhia elétrica no curto prazo, embora a entrada de Monteiro no cargo seja positiva e indique continuidade do trabalho que vinha sendo feito na empresa até então.

- WEG ON (BVMF:WEGE3) recuou 4,42%, a 37,61 reais. Analistas da XP Investimentos (BVMF:XPBR31) cortaram a recomendação da ação para "neutra" e o preço-alvo de 45 para 40 reais, citando expectativas de desaceleração de receita e retornos se acomodando em níveis mais baixos nos próximos anos. Mesmo com a visão de que a Weg é uma empresa "melhor da turma" e uma das mais bem-sucedidas da história corporativa brasileira, eles consideram o múltiplo P/L atual de cerca de 29 vezes como uma história "precificada à perfeição".

- IRB (RE) ON (BVMF:IRBR3) disparou 11,86%, a 44,25 reais, tendo como pano de fundo relatório de analistas do Citi elevando a recomendação dos papéis para "neutra", bem como o preço-alvo, de 25 para 40 reais. Eles apontaram que a redução do risco de capital dá menos razões para serem vendedores dos papéis da resseguradora.

- ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) fechou com variação negativa de 0,07%, a 27,07 reais, distante da máxima do dia, quando chegou a 27,52 reais, mesmo com analistas do JPMorgan (NYSE:JPM) elevando o preço-alvo da ação de 31 para 33 reais, com manutenção do "overweight". No setor, BANCO DO BRASIL ON (BVMF:BBAS3) subiu 0,86%, BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) recuou 0,52% e SANTANDER BRASIL UNIT (BVMF:SANB11) terminou com decréscimo de 1,08%.