Ibovespa derrete quase 5% com risco político; Petrobras perde R$74 bi

Reuters

Publicado 22.02.2021 18:53

Atualizado 22.02.2021 19:05

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em forte queda nesta segunda-feira, com Petrobras perdendo 74 bilhões de reais em valor de mercado e investidores enxergando aumento relevante de risco de interferência do governo em estatais. Banco do Brasil (SA:BBAS3) desabou 11,65%.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 4,87%, a 112.667,70 pontos, menor patamar de fechamento desde 3 de dezembro de 2020. Foi também a maior queda percentual diária desde 24 de abril do ano passado.

Influenciado pelo vencimento de opções sobre ações, units e cotas de ETFs na B3 (SA:B3SA3) nesta sessão, o volume financeiro atingiu 84,5 bilhões de reais, superando o recorde de dezembro do ano passado, quando registrou 81,5 bilhões, em sessão marcada pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa.

Após indicar na última sexta-feira o general Joaquim Silva e Luna para assumir o comando da Petrobras após o encerramento do mandato de Roberto Castello Branco, o presidente Jair Bolsonaro prometeu no fim de semana mais mudanças e afirmou que irá "meter o dedo na energia elétrica".

Nesta segunda-feira, Bolsonaro afirmou a apoiadores que é possível reduzir em 10% o preço dos combustíveis intervindo na bitributação e em mudanças no ICMS.

O entendimento no mercado é o de que as declarações de Bolsonaro elevam de forma expressiva o risco político e se somam a incertezas já relevantes nas áreas da saúde e fiscal, bem como no cenário prospectivo para a agenda de reformas. Para alguns, o problema não é uma mudança na Petrobras, mas como aconteceu.

Além do efeito de curtíssimo prazo, executivos de bancos de investimento e gestores temem que a forte reversão das políticas favoráveis ​​ao mercado do Brasil por Bolsonaro possa impactar o recente renascimento das ofertas de ações por empresas no país.

"Há uma aumento de aversão a risco relacionado a Brasil com as dúvidas sobre o que podem ser essas medidas do Bolsonaro...", disse o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos. "Fica um pouco em suspenso o cenário (de IPOs) até todo mundo entender exatamente o que está acontecendo."

h2 DESTAQUES/h2

- PETROBRAS PN (SA:PETR4) caiu 21,51%, a 21,45 reais, voltando para níveis de novembro do ano passado, assim como PETROBRAS ON (SA:PETR3), que recuou 20,48%, a 21,55 reais. Foi o pior desempenho percentual diário das ações desde março de 2020. Uma bateria de analistas cortaram a recomendação e os preços-alvo dos papéis da companhia, citando aumento de incertezas com a maior interferência do governo na petrolífera de controle estatal. Para o Credit Suisse (SIX:CSGN), as principais dúvidas agora se referem à continuidade da política de preços da Petrobras atrelada à paridade internacional; e a mudanças no plano de negócios. Nesta segunda-feira, a Petrobras perdeu cerca de 74 bilhões de reais em valor de mercado.

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- BANCO DO BRASIL ON (SA:BBAS3) recuou 11,65%, a 28,83 reais, mínima desde maio do ano passado. Foi também a maior queda percentual diária desde abril, equivalente a uma perda de valor de mercado de 10,9 bilhões de reais. O BB também sofreu com o aumento da percepção de risco de interferência política em entidades estatais após decisões ligadas à Petrobras, com o BB já sob os holofotes após ruídos com Bolsonaro por causa da reestruturação do banco. O Itaú BBA reiterou visão cautelosa para as ações, enquanto o Credit Suisse cortou a recomendação para 'neutra' e reduziu o preço-alvo para 38 reais. Entre os bancos, BRADESCO PN (SA:BBDC4) caiu 6,56% e ITAÚ UNIBANCO PN (SA:ITUB4) cedeu 7,28%.

- ELETROBRAS ON (SA:ELET3) e ELETROBRAS PNB (SA:ELET6) perderam 0,69% e 0,17%, respectivamente, também contaminadas pelas declarações de Bolsonaro sobre energia, embora tenham se afastado das mínimas durante o pregão. O índice do setor elétrico recuou 3,48%. Para o Bradesco BBI, o risco de interferência regulatória contundente é baixo, embora o regulador tenha atualmente um incentivo para mitigar os aumentos das tarifas de eletricidade em 2021 porque a economia e a população ainda estão enfrentando impactos negativos da Covid-19.

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