Ibovespa fecha abaixo de 98 mil pontos com ajustes sobre Selic e ruído institucional

Reuters

Publicado 23.03.2023 17:05

Atualizado 23.03.2023 17:40

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em forte queda nesta quinta-feira, um dia após o Banco Central esfriar expectativas de alívio monetário em breve, em pregão também minado por novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao BC e pela escalada no conflito entre os titulares da Câmara dos Deputados e do Senado.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 2,29%, a 97.926,34 pontos, mínima desde julho de 2022 e distante da máxima da sessão no começo do dia, de 101.125,76 pontos. No pior momento, chegou a 96.996,84 pontos. O volume financeiro somou 25,6 bilhões de reais.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a Selic em 13,75% ao ano na véspera, reforçando que "irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional".

Para o analista Luis Novaes, da Terra Investimentos, o BC revelou preocupação com as ainda desancoradas expectativas sobre a inflação e destacou como um dos fatores de risco a incerteza quanto à estabilidade fiscal nos próximos anos, sinalizando que o ciclo de baixa da Selic não deve começar em breve.

"Houve uma mudança na perspectiva (otimista) do mercado quanto à trajetória dos juros e seus impactos sobre atividade econômica e resultados das empresas", avaliou, citando que, na sessão, investidores optaram por setores de maior estabilidade na B3 (BVMF:B3SA3) ou preteriram ativos de risco em sua totalidade.

O comunicado do BC reforçou a visão de grandes bancos de que reduções na Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só no final desse período.

A sinalização do Copom de que há pouco espaço para queda de juros desencadeou novas críticas de Lula ao nível da Selic, ao BC e ao presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Ele reafirmou não ver explicação para o atual nível dos juros no país e disse que o BC deve pagar o preço.

As declarações de Lula, combinadas a críticas também de outros integrantes da ala política ligada ao governo, aumentam as preocupações do mercado, "tendo em vista a incerteza que esse fator adiciona", acrescentou Novaes.

Além do aumento da tensão Lula/BC, também afetou o humor na B3 novos desdobramento da crise entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que trava há semanas a tramitação de medidas provisórias no Congresso.

Lira afirmou nesta quinta-feira que a tramitação de MPs não irá avançar "um milímetro" na Câmara após Pacheco acatar um pedido que restabelece a forma de andamento das medidas provisórias nos moldes que vigoravam antes da pandemia. Ele disse ainda que quem pode ser mais prejudicado é o governo Lula.

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Em Wall Street, embora os principais índices tenham perdido fôlego durante a sessão, o sinal positivo prevaleceu, com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, assegurando que medidas serão tomadas para manter seguros os depósitos dos norte-americanos.

Em 2023, o norte-americano S&P 500 acumula alta de 2,85%, enquanto o Ibovespa recua 10,76%.

Para o sócio e estrategista da Meta Asset, Alexandre Póvoa, o problema não é juros internacionais, crise bancária ou qualquer coisa que venha de fora, "A verdadeira questão é o cenário brasileiro, com juros altos, crescimento baixo, baixa visibilidade fiscal e grande barulho institucional."

"O verdadeiro nó de nossa bolsa é 100% tupiniquim", afirmou em comentário a clientes nesta quinta-feira.

h2 Destaques/h2

- MAGAZINE LUIZA ON (BVMF:MGLU3) desabou 13,37%, a 3,11 reais, e VIA ON (BVMF:VIIA3) tombou 7,04%, a 1,85 reais, conforme a decisão e a sinalização do BC minaram apostas de um alívio no aperto monetário mais cedo no Brasil, desencadeando um ajuste para cima na curva futura de juros.

- GOL PN (BVMF:GOLL4) fechou em baixa de 10,08%, a 5,98 reais, e AZUL PN (BVMF:AZUL4) caiu 8,88%, a 11,19 reais, afetadas também pela alta do dólar ante o real.

- MRV ON (BVMF:MRVE3) recuou 6,8%, a 6,99 reais, afetada negativamente pela alta nas taxas futuras de juros, com o índice do setor imobiliário caindo 4,87%. O pior desempenho foi de TENDA ON (BVMF:TEND3), que não está no Ibovespa e afundou 15,77%, a 4,86 reais, na esteira de leilão de terrenos do novo programa habitacional cidade de São Paulo, o Pode Entrar.

- EMBRAER ON (BVMF:EMBR3) avançou 1,78%, a 20,54 reais, entre as poucas altas do Ibovespa na sessão. Analistas do Citi elevaram o preço-alvo dos ADRs da fabricante de aviões de 11,75 para 17 dólares, embora tenham mantido a recomendação "neutra".

- BRASKEM PNA (BVMF:BRKM5) caiu 4,91%, a 16,64 reais, após prejuízo líquido no quarto trimestre do ano passado acima da perda registrada um ano antes, em um resultado marcado por demanda e margens menores. A receita líquida caiu 33%. A petroquímica estimou investimento menor em 2023 em estratégia de preservação de caixa em um ambiente de demanda pressionada.

- CEMIG PN (BVMF:CMIG4) subiu 0,77%, a 10,52 reais. A elétrica mineira disse na véspera que pagará 424,2 milhões de reais em juros sobre capital próprio (JCP) aos seus acionistas.