Ibovespa fecha em queda com ajustes após BC não se comprometer a cortar Selic em agosto

Reuters

Publicado 22.06.2023 17:05

Atualizado 22.06.2023 17:40

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, em sessão de ajustes, uma vez que o Banco Central não se comprometeu com um corte da taxa Selic em agosto, embora na visão de economistas não tenha necessariamente excluído essa possibilidade.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,23 %, a 118.934,2 pontos. No pior momento, chegou a 118.018,03 pontos. O volume financeiro somou 23,5 bilhões de reais.

Na véspera, o Ibovespa fechou em uma máxima desde abril de 2022.

De acordo com o gestor de ações da Ace Capital Tiago Cunha, a bolsa refletiu movimentos de realização de lucros após o rali recente, principalmente em ações que tiveram o desempenho beneficiado por perspectivas de uma taxa de juros mais baixa.

Ele avalia que o principal gatilho para o movimento nesta sessão veio da leitura do mercado do comunicado que acompanhou a decisão do Copom na véspera, que não deixou claro quando terá início o ciclo de flexibilização monetária no país.

"É uma correção, afinal, a diferença entre o inicio de ciclo em uma reunião ou outra, não deveria fazer tanta diferença no valor das empresas, quando colocado sob a perspectiva do longo prazo", acrescentou.

O Banco Central manteve a Selic em 13,75% ao ano na véspera e afirmou no comunicado que a conjuntura demanda "paciência e serenidade" na condução da política monetária, mas excluiu trechos que economistas consideraram como um sinal "dovish".

Para o economista-chefe da XP (BVMF:XPBR31), Caio Megale, o BC mencionar alguma melhora nas perspectivas de inflação "abre as portas para um possível corte" em agosto, enquanto a visão de que o cenário exige parcimônia indica que o primeiro corte não será agressivo.

Ele também chamou a atenção para a declaração do BC de que a estratégia de manter a Selic nos níveis atuais por um longo período "tem sido adequada" e retirada da promessa de não hesitar em retomar o ciclo de alta se necessário.

"É um sinal de que manter a taxa Selic estável à frente não é necessariamente o plano do comitê", avaliou Megale, que reiterou previsão de corte de 0,25 ponto percentual em agosto.

Economistas do UBS BB (BVMF:BBAS3), contudo, descartaram de seu cenário base agosto como o ponto de partida dos cortes, citando que o BC reforçou a mensagem de as expectativas de inflação para 2024 e 2025 precisam continuar caindo para a Selic ser reduzida.

Apesar da forte revisão na previsão do consenso para o IPCA em 2023, a equipe do UBS BB destacou que as expectativas para 2024 e 2025 mudaram apenas ligeiramente, "e este é o horizonte que importa para a política monetária agora".

Eles calculam que as expectativas teriam que cair 0,3 ponto percentual para 2024 e 2025 para o BC cortar em setembro. Para um corte em agosto, afirmam, seria necessária uma redução de 0,5 ponto em cada ano, "o que parece improvável devido ao prazo".

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Nesse contexto, investidores estarão atentos à ata do encontro que será divulgada na terça-feira a fim de buscar mais detalhes sobre o pensamento do Comitê de Política Monetária. A próxima reunião do Copom ocorre nos dias 1 e 2 de agosto.

A perspectiva de queda da Selic no segundo semestre tem apoiado um desempenho mais positivo no pregão brasileiro, com estrangeiros reforçando tal movimento nas últimas semanas.

Em Wall Street, o S&P 500 fechou com um acréscimo de 0,37%, em mais uma sessão marcada por declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, incluindo a de que o BC dos EUA ajustará a taxa de juros em um "ritmo cuidadoso" a partir daqui.

h2 Destaques/h2

- MAGAZINE LUIZA ON (BVMF:MGLU3) caiu 5,05%, a 3,57 reais, em meio ao movimento de correção generalizado na bolsa paulista, principalmente de papéis cíclicos domésticos, que vinham mostrando forte valorização. No ano até a véspera, Magalu acumulava ganho de 37%. VIA ON (BVMF:VIIA3) fechou em queda de 4,6%, tendo ainda no radar anúncio de troca na sua vice-presidência financeira.

- EZTEC ON (BVMF:EZTC3) recuou 6,64%, a 18 reais, com ações de construtoras também experimentando ajustes após forte valorização no ano. MRV ON (BVMF:MRVE3) perdeu 5,04% e CYRELA ON (BVMF:CYRE3) caiu 3,38%. Até a véspera, Eztec  avançava 44% no ano, enquanto MRV valorizava-se quase 57% e Cyrela acumulava alta também em torno de 57%.

- CVC BRASIL ON (BVMF:CVCB3) perdeu 3,53%, a 3,83 reais, antes da precificação de sua oferta primária de ações nesta quinta-feira. O follow-on terá os recursos destinados para aquisição de determinadas debêntures, além de reforço do capital de giro e melhoria da estrutura de capital. Considerando preço de fechamento da véspera do anúncio, de 4,10 reais, a oferta total alcança 683,333 milhões de reais.

- ASSAÍ ON (BVMF:ASAI3) fechou em baixa de 0,3%, a 13,36 reais, após a rede francesa Casino anunciar nesta quinta-feira que venderá sua participação restante na rede de atacado de autosserviço brasileira, de 11,7%. De acordo com o Assaí, a operação ocorrerá na B3 (BVMF:B3SA3) na sexta-feira por meio de block trade. Na mínima mais cedo, as ações recuaram 3,7%.

- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) recuou 1,26%, a 31,45 reais, após renovar máximas históricas na véspera, quando contabilizou uma alta de quase 55% no ano. A correção nesta sessão encontrou respaldo no declínio dos preços do petróleo no exterior, com o contrato Brent encerrando em baixa de 3,86%, a 74,14 dólares o barril. PETROBRAS ON (BVMF:PETR3) terminou com queda de 1,65%.

- ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) caiu 0,96%, a 28,76 reais, e BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) perdeu 2,61%, a 16,8 reais, acompanhando os ajustes de baixa na bolsa paulista. Até a véspera, Itaú acumulava uma alta de 19% no ano, enquanto Bradesco mostrava uma elevação de 19,4%.

- VALE ON (BVMF:VALE3) fechou com decréscimo de 0,54%, a 66,57 reais, sem conseguir escapar do movimento mais negativo na bolsa, mesmo após três quedas seguidas, período em que acumulou perda de quase 4%.