Ibovespa sobe 1,9% após anúncio de regra fiscal, apesar de desconfianças

Reuters

Publicado 30.03.2023 17:57

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira, confirmando o quinto pregão seguido no azul, após a divulgação do novo arcabouço fiscal do país pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O movimento ocorreu apesar do desconforto no mercado com alguns detalhes da proposta, que ainda passará pelo Congresso Nacional.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,89%, a 103.713,45 pontos. Na máxima, chegou a 104.085,4 pontos. Apesar do avanço de 5,91% nessa série de altas, ainda caminha para um desempenho negativo em março, de 1,16% até o momento.

O volume financeiro no pregão somou 23,9 bilhões de reais, melhor do que nas sessões anteriores, mas ainda um pouco abaixo da média diária do mês, de 25,6 bilhões de reais.

A nova regra fiscal proposta pelo governo terá uma trava para impedir que os gastos federais cresçam mais do que a arrecadação, mas contará também com um limite mínimo para a evolução das despesas e com metas flexíveis para o resultado primário, conforme divulgou o Ministério da Fazenda.

O texto traz um piso para gastos com investimentos públicos e não inclui gatilhos específicos para redução de despesas, cabendo ao governo em exercício decidir politicamente quais áreas sofrerão cortes em caso de necessidade.

Na visão dos analistas Giovanni Bianchi e Lucas Ramos, da BR Partners (BVMF:BRBI11), o plano segue muito apoiado nas receitas, com muito pouco ajuste sendo feito pelos gastos.

"Não ficou claro como a trajetória de médio/longo prazo vai se manter, dado que a receita é muito ligada a ciclos econômicos, enquanto a despesa é mais rígida. Assim, temos a situação de termos uma variável volátil como teto de uma variável rígida - despesas. É um pouco estranho", afirmaram.

Eles também apontaram para a sinalização de que o país, conforme a proposta, terá superávits sucessivos.

"O dilema é colocar esse funcional em prática e qual será o mecanismo para pedir mudança da meta primária. Vai depender do Congresso aprovar a segunda parte da reforma da Previdência e de aumentar bem a base tributária", disseram, lembrando que o Congresso já se mostrou inúmeras vezes contra aumento da carga.

Ainda assim, destacaram positivamente o fato de o limite de 70% de aumento de gastos em relação ao crescimento de receitas ser baseado na trajetória de receitas dos últimos 12 meses e não em alguma projeção arbitrária.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse mais cedo que a proposta deve ser enviada para apreciação do Congresso Nacional na próxima semana. Ele apresentou o texto aos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados e lideranças partidárias antes da divulgação oficial nesta quinta.

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Para Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, a proposta não apresenta ferramentas claras sobre de onde virá o aumento das receitas, assim como não fala em cortes de gastos, não aborda como irá endereçar as despesas com juros e não aponta qual será o caminho no caso de queda na arrecadação.

"É muito mais uma carta de intenção do que de ação. Pode falar o que quiser, como é que vai cumprir, por enquanto, não mostrou", afirmou. "Vamos aguardar se vem algo de novo."

Apesar da desconfiança com alguns pontos do texto, o anúncio amplamente aguardado no mercado acabou tendo um efeito de baixa na curva futura de juros, o que também beneficiou ações na bolsa paulista.

Enrico Cozzolino, sócio e chefe de análise da Levante Investimentos, destacou que o arcabouço traz um direcionamento mais claro sobre a trajetória da dívida. Ainda assim, ele cita como um fator de preocupação a possibilidade de as despesas crescerem mesmo em um ano de queda de arrecadação do governo.

No exterior, Wall Street também teve uma sessão positiva, corroborando com a performance do Ibovespa. O S&P 500 subiu 0,57%, com os papéis de tecnologia ampliando alta recente, enquanto bancos regionais caíram após o governo dos Estados Unidos propor medidas para ajudar a reduzir o risco.

h2 Destaques/h2

- ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) subiu 2,75%, a 24,62 reais, e BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) avançou 3%, a 13,38 reais, em dia positivo para o setor como um todo, em meio ao anúncio de uma âncora fiscal para o país. No seu Relatório Trimestral de Inflação, porém, o Banco Central reduziu sua projeção de crescimento do crédito no país a 7,6% este ano, ante estimativa de 8,3% feita em dezembro.

- USIMINAS PNA (BVMF:USIM5) valorizou-se 7,03%, a 7,31 reais, após anúncio do grupo Ternium de que acertou um acordo com a Nippon Steel para assumir o grupo de controle da siderúrgica brasileira em uma transação que pode encerrar a influência de décadas do grupo japonês no comando de uma das maiores produtoras de aços planos do Brasil. No setor, CSN ON (BVMF:CSNA3) avançou 5,43% e GERDAU PN (BVMF:GGBR4) subiu 3,24%.

- SÃO MARTINHO ON (BVMF:SMTO3) fechou em alta de 5,77%, a 27,32 reais, ainda apoiada pela decisão envolvendo cobrança uma única vez de ICMS nas operações com gasolina e etanol anidro combustível, no valor de 1,45 real por litro. RAÍZEN PN fechou em alta de 5,09%, a 2,89 reais.

- CVC (BVMF:CVCB3) BRASIL ON ganhou 8,28%, a 3,27 reais, embalada pelo apetite a risco na bolsa paulista. O setor de consumo como um todo teve suporte do alívio na curva de juros, na esteira do anúncio da nova regra fiscal do país. No setor de viagens, GOL (BVMF:GOLL4) PN fechou em alta de 5,52% e AZUL PN (BVMF:AZUL4) terminou com acréscimo de 3,77%.

- VALE ON (BVMF:VALE3) subiu 1,63%, a 81,82 reais, uma vez que os contratos futuros de minério de ferro na bolsa de Dalian, na China, tiveram uma quarta sessão consecutiva de ganhos nesta quinta-feira. O movimento da commodity foi apoiado pela perspectiva de recuperação da demanda depois que o consumo de aço foi temporariamente limitado pelo tempo chuvoso em muitas regiões na semana passada.