Ibovespa tem pior mês desde tombo com pandemia em 2020 por preocupação com recessão global

Reuters

Publicado 30.06.2022 17:41

Atualizado 30.06.2022 18:25

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, afetado pelas preocupações com o ritmo do crescimento econômico global, que também foram determinantes para que junho registrasse a pior performance mensal desde março de 2020.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,08%, a 98.541,95 pontos, tendo tocado 97.758 pontos no pior momento, nova mínima intradia desde 4 de novembro de 2020. O volume financeiro somou 27,5 bilhões de reais.

No mês, o Ibovespa caiu 11,5%, maior queda percentual desde março de 2020, quando foi duramente afetado pelo alastramento da pandemia pelo Brasil. O desempenho trimestral também foi o pior desde o começo de 2020, com perda de 17,88%. Em 2022, cai 5,99%.

Na visão do sócio e estrategista da Meta Asset Management, Alexandre Póvoa, os bancos centrais dos países desenvolvidos estão nitidamente atrás da curva em relação à inflação, o que tem afetado prognósticos de investidores sobre a atividade econômica.

"A sensação de descontrole fez com que os investidores, antevendo um aperto monetário mais forte, começassem a projetar um cenário de recessão mundial, ou até pior, uma estagflação", acrescentou o gestor.

A economista-chefe da Claritas, Marcela Rocha, disse que, além da preocupação adicional com o comportamento dos preços nesse mês, a sinalização dos BCs de que estão dispostos atuar para conseguir arrefecer a inflação o mais rápido possível levou inevitavelmente a uma discussão sobre qual será o tamanho da desaceleração da atividade econômica.

"E esse cenário de juro alto, inflação persistente e recessão não é um cenário benéfico para emergentes, afinal é um cenário de propensão menor a risco e maior dificuldade de atração de investimentos dada toda a incerteza", afirmou.

Para Póvoa, o mercado ainda está sob intensa neblina, dado que os BCs mundiais não estão seguros nem em relação ao ritmo e nem em relação ao final do processo de aperto monetário. "Sem essa visibilidade, dificilmente as bolsas se recuperarão."

No Brasil, ele avalia que a bolsa vive o "pior dos mundos", com ações de commodities sofrendo pelo receio de deterioração de atividade e as de mercado doméstico sendo penalizadas pelo estresse na curva de juros em razão de riscos fiscais.

O governo lançar mão de medidas fiscais, na visão de Póvoa, "claramente com fins eleitoreiros", afetou o mercado de DI e NTN-Bs, aumentando a transferência de dinheiro de fundos de ações e multimercados a produtos de renda fixa. "E os resgates obrigam os gestores a vender, amassando ainda mais as cotações."

Rocha também destacou que o componente de incerteza fiscal afetou os ativos brasileiro nesse mês. "A mensagem (do governo com as últimas medidas propostas) é que houve novamente um enfraquecimento da âncora fiscal...e esse enfraquecimento ocorre próximo à eleição, o que indica que novos furos no teto de gastos não podem ser descartados", afirmou.

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Para Póvoa, uma boa notícia em relação ao Brasil é que já há uma maior clareza sobre até que ponto o BC irá na taxa Selic, algo entre 13,5% e 14%, ficando nesse nível por muito tempo. "Além disso, tem muita barganha já na bolsa. O problema é saber quem vai comprar. O investidor local só quer saber de renda fixa e o estrangeiro está completamente avesso a risco. Enquanto isso, sofremos todos."

DESTAQUES

- FLEURY ON (BVMF:FLRY3) saltou 16,10%, após acertar compra do Instituto Hermes Pardini (BVMF:PARD3), em negócio transformacional para a companhia e que prevê um incremento de Ebitda anual do grupo combinado antes de impostos e líquido de custos de entre 160 milhões e 190 milhões de reais. HERMES PARDINI ON, que não está no Ibovespa, disparou 18,99%.

- VALE ON (BVMF:VALE3) recuou 2,83%, em sessão negativa para os futuros do minério de ferro em Dalian e Cingapura, com CSN MINERAÇÃO ON caindo 6,31%. No setor de siderurgia, CSN ON (BVMF:CSNA3), USIMINAS PNA (BVMF:USIM5) e GERDAU PN (BVMF:GGBR4) recuaram 6,42%, 4% e 3,41%, respectivamente.

- PETROBRAS PN (BVMF:PETR4) cedeu 0,53%, na esteira do declínio dos preços do petróleo no mercado externo. Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) também mostraram que a venda de combustíveis no Brasil cresceu 6,1% em maio ante igual mês do ano passado.

- BRADESCO PN (BVMF:BBDC4) caiu 2,27% e ITAÚ UNIBANCO PN (BVMF:ITUB4) recuou 1,78%, contaminados pela aversão a risco que minou o pregão. O índice do setor financeiro - que inclui ainda papéis como o da B3 (BVMF:B3SA3), que subiu 0,09% - fechou em baixa de 0,98%.