'Nós temos de apostar no País e deixar de mimimi', diz Besaliel Botelho, da Bosch

Estadão Conteúdo

Publicado 10.01.2022 14:03

Atualizado 10.01.2022 18:52

'Nós temos de apostar no País e deixar de mimimi', diz Besaliel Botelh

Besaliel Botelho é uma espécie de sumidade no setor de veículos no Brasil. Afinal, o executivo, de 62 anos, ingressou na Bosch (NS:BOSH) há 37 e passou a dirigir a área de Powertrain em 1987. Sob seu comando, a empresa desenvolveu o sistema bicombustível, que permite que o carro utilize gasolina, etanol ou a mistura de ambos em qualquer proporção. Mais recentemente, a companhia participou do projeto que deu origem ao primeiro veículo 100% elétrico criado e produzido na América Latina: o caminhão Volkswagen (DE:VOWG) e-Delivery, cujas vendas começaram em 2021. Às vésperas de passar o bastão de presidente para o argentino Gastón Diaz Perez, o recifense que foi estudar na Alemanha aos 18 anos e voltou com 25 concedeu a seguinte entrevista ao Estadão.

Em 2021, o setor de veículos foi afetado, além da pandemia, por questões como a alta do dólar e a falta de componentes, sobretudo semicondutores. Como foi o desempenho da Bosch?

Em 2021, tivemos um bom ganho de participação de mercado em todos os segmentos. Criamos novos modelos de negócios e crescemos muito no e-commerce. A indústria de segmentos onde atuamos cresceu. Então, 2021 talvez tenha sido um dos anos de recorde de faturamento para a Bosch. Também enfrentamos vários entraves, como o desarranjo da cadeia de fornecimento, com problemas graves no setor de aço e de outras matérias-primas. A Bosch é uma das grandes fornecedoras de eletrônica embarcada em veículos e utilizamos muitos chips. Seja como for, avançamos muito na digitalização, aplicamos conceitos fortes da indústria 4.0 e conseguimos atingir a neutralidade na emissão de carbono em todas as nossas plantas e nas nossas demais operações aqui no Brasil.

Recentemente, o sr. disse que cada região do planeta vai desenvolver sua própria solução para reduzir as emissões geradas por veículos. O caminho não é a eletrificação?

Não se trata de eletrificação, mas de descarbonização. Ou seja, de reduzir as emissões de CO2 e o efeito estufa. A área da mobilidade é uma das envolvidas, mas não é a maior. E não dá para olhar apenas o que sai do escapamento do veículo. É preciso cobrir toda a cadeia de geração da energia. Com os carros a bateria você resolve o problema nas grandes cidades, mas não descarboniza o planeta. O Brasil atua nessa frente há muitos anos, com o uso de biomassa e do etanol. Mais de 83% da nossa eletricidade e 45% da nossa matriz energética são renováveis. Cada região tem sua especificidade e, no Brasil, creio que ela passa pela biomassa. Antes de chegar a uma solução de carro elétrico puro ou a célula a combustível, o País deverá ter outras que possam ser implantadas mais rapidamente.

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Neste ano, haverá eleições para presidente da República. Independentemente de quem for escolhido, o que o governo tem de fazer para desenvolver o País?

Sou muito otimista com relação a 2022. O Brasil é um país muito pujante nos seus potenciais, importância e relevância. Não só pelo que gera nos setores primários e no agronegócio. Temos cabeças brilhantes buscando novos negócios e oportunidades. O atual governo fez mais de 121 licitações, que representam R$ 650 bilhões em investimentos em rodovias, ferrovias. Meu tema não é política, mas olhar o Brasil. Quero ver o País evoluir. Nós precisamos vender bem a imagem do Brasil no exterior, porque assim os investimentos externos vêm. O País é tão forte que, se a política não atrapalhar, ele vai sozinho. A iniciativa privada está bastante comprometida com o País. Precisamos resgatar bons valores e continuar brigando contra a corrupção, que é um câncer no nosso país. Somente com mais empregos, oportunidades de negócio e investimentos, e não distribuindo dinheiro, vamos tirar o povo da miséria. Temos de acreditar e apostar no Brasil, deixar de "mimimi" e empurrar o País para frente.

A maior parte da sua carreira foi em postos de direção na Bosch. Qual foi o momento mais complicado?

Um dos momentos mais difíceis da minha carreira foi em março, abril de 2020. Eu tinha a responsabilidade de atravessar o transatlântico Bosch com 10 mil colaboradores a bordo por uma tempestade que a gente jamais tinha visto. Não havia receita de bolo, e eu não podia pedir ajuda à matriz, na Alemanha, porque a tempestade também estava lá. Havia gente morrendo no mundo todo, contaminação, medidas de restrições... Mas aí veio a medida provisória que permitiu reduzir a jornada e os salários. Tivemos de agir rápido. Em duas semanas, acertamos tudo com os sindicatos e os colaboradores. Só voltei a dormir melhor depois de maio, quando conseguimos equalizar a questão do caixa e dos empregos. Os salários foram recompostos e voltamos a crescer.

Como o sr. avalia sua trajetória na Bosch e o que espera da nova posição, no conselho da companhia?

Investimos cerca de R$ 1,5 bilhão nos últimos dez anos em tecnologia e inovação. Juntamente com nossos clientes, tornamos os veículos mais seguros, conectados e eficientes. O sistema Flex contribuiu para que 500 milhões de toneladas de CO2 deixassem de ser lançadas na atmosfera. Então, eu vejo um balanço muito positivo e um momento bom, com forte crescimento ante 2019. Em pouco tempo, vamos praticamente dobrar o faturamento. No conselho, vou atuar estrategicamente, principalmente em temas ligados à energia e ao futuro da mobilidade. Coordeno o grupo de digitalização da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além disso, sou presidente da Associação Brasileira de Engenharia automotiva (AEA). Tenho muita coisa para fazer e vou continuar atuando fortemente para contribuir com o Brasil.

Se pudesse mandar um recado para o Botelho que acabava de sair da Universidade Hochschule Karlsruhe (HKA), na Alemanha, em 1985, qual seria?

Eu diria para aquele jovem, naquela época: "Entra na Bosch, é uma boa empresa. Ela vai te ajudar bastante na sua carreira profissional e para ampliar seus conhecimentos."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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