Operadores de grãos se opõem a proposta de moratória da soja no Cerrado

Reuters

Publicado 07.11.2019 17:02

Por Ana Mano

CAMPINAS (Reuters) - Operadores globais de grãos são contrários à proibição das compras de soja provenientes de novas áreas desmatadas no Cerrado, medida que duplicaria uma moratória similar em vigor na Amazônia, disse nesta quinta-feira a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

"Não há intenção de que isso ocorra", disse à Reuters o assistente executivo da Anec, Lucas Brito, durante uma conferência da indústria em Campinas (SP).

A Anec representa grandes tradings do setor, como Archer Daniels Midland, Cargill, Cofco, Louis Dreyfus, Glencore (LON:GLEN) e outras.

Os comentários de Brito vêm dois dias após agricultores brasileiros afirmarem que irão lançar uma campanha para acabar com a Moratória da Soja na Amazônia e que não veem espaço para um acordo semelhante no Cerrado.

Estabelecida em 2006, a Moratória da Soja proíbe o comércio da oleaginosa obtida em áreas desmatadas após 2008. Antes, o setor elogiava a medida por dificultar o desmatamento relacionado à soja na região.

Vizinho da Amazônia, o Cerrado ocupa cerca de um quarto do Brasil e é o segundo maior bioma do país, atrás apenas do Amazônico.

A região tem sido essencial para a expansão do cultivo da soja no Brasil, mas tal crescimento também levou à destruição de cerca de metade da vegetação do Cerrado ao longo de 50 anos.

Ambientalistas dizem que o relativo sucesso do Brasil na preservação da Amazônia ajudou a impulsionar ainda mais a expansão da soja no Cerrado, o que levou alguns deles à defesa de uma moratória similar para a região.

A Anec alega que replicar o modelo no Cerrado não funcionaria.

Brito disse que um dos motivos é o novo Código Florestal do Brasil, que entrou em vigor em 2012. Pelo código, os agricultores têm o direito de expandir o plantio de suas propriedades observando certos limites, o que é incompatível com o conceito da moratória, segundo ele.

Brito disse que o desafio atual é conciliar as regras de uso da terra e os requisitos de produção sustentável impostos pelos principais clientes do Brasil.