Reuters
Publicado 05.02.2021 16:35
Atualizado 05.02.2021 20:06
Por Sabrina Valle
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) confirmou nesta sexta-feira que ampliou de três meses para um ano o prazo em que calcula a paridade internacional de preços dos combustíveis, o que confirma reportagem publicada mais cedo pela Reuters.
A regra permite à empresa praticar preços de gasolina e diesel acima ou abaixo da paridade de importação durante determinado período, desde que essa diferença "seja mais do que compensada" posteriormente dentro do prazo previsto, disse a estatal em comunicado nesta sexta-feira.
Antes, o período para que fosse encontrado esse equilíbrio era de três meses. A Petrobras disse no comunicado que a mudança ocorreu no primeiro semestre de 2020 "dada a alta significativa da volatilidade de preços de combustíveis".
A Reuters publicou mais cedo que a alteração no prazo foi feita em dezembro, com informação de fontes.
Essa é a primeira vez em quase dois anos que o período utilizado internamente pela Petrobras para cálculo da flutuação de preços é revelado.
A informação vem à tona em momento em que caminhoneiros têm pressionado o governo com queixas sobre os preços do diesel e outras demandas, inclusive com uma ameaça de greve neste mês que acabou tendo pouca adesão. Governo e Petrobras negam interferência política.
As ações da Petrobras, que subiram 3% a maior parte do dia, reduziram ganhos após a publicação da reportagem e chegaram a operar no território negativo. Os papéis preferenciais encerraram com alta de 0,69%, contra ganhos de 0,82% do índice Ibovespa.
Em comunicado ao mercado depois da reportagem da Reuters, a Petrobras disse que teve fortes resultados operacionais. A empresa disse que o ajuste de prazos em sua política "não afetou o desempenho financeiro" da companhia e defendeu que tem "independência na determinação dos preços dos combustíveis".
CAMINHONEIROS NO RADAR Em 17 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro disse em uma transmissão ao vivo pela internet que ligou para o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, para entender por que os preços do diesel subiram, e que ele estava fazendo o possível para ajudar os caminhoneiros.
Castello Branco, porém, afirmou na semana passada que as demandas dos caminhoneiros não são problema da Petrobras.
Nesta sexta-feira, o CEO da estatal disse que o governo nunca interferiu em preços dos combustíveis durante seu mandato à frente da companhia, iniciado em 2019.
O presidente Bolsonaro também disse nesta sexta-feira que nunca atuou para interferir nos preços da empresa.
Em 2018, o então presidente da Petrobras Pedro Parente renunciou após uma greve de caminhoneiros, descontentes com a política de reajustes diários da empresa.
Enquanto caminhoneiros reclamam do valor atual do diesel, importadores privados dizem que a Petrobras está vendendo combustíveis com prejuízo, dificultando suas importações, uma alegação que a companhia nega.
A Petrobras não divulga os detalhes de seu método de cálculo da paridade, que inclui variáveis como preço do petróleo, câmbio e custo até o ponto de venda. A empresa diz que opera acima do preço de custo.
Analistas apontam que a empresa pode, mesmo não operando com prejuízo, perder a oportunidade de lucro maior, ao não alinhar os preços com o mercado internacional.
A nova política dá à Petrobras mais tempo antes de fechar as contas sobre o impacto contábil das oscilações de preços internacionais, dando-lhe flexibilidade para manter seus preços nas refinarias por um período mais longo e manter mercado.
Escrito por: Reuters
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