Petrobras tem margens de combustíveis apertadas após alta do petróleo, dizem analistas

Reuters

Publicado 06.01.2020 18:53

Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Sem reajustar diesel e gasolina há semanas, a Petrobras (SA:PETR4) está com margens apertadas e deverá elevar os valores cobrados nas refinarias nos próximos dias, caso as altas dos preços no mercado internacional devido a tensões no Oriente Médio se mantenham, avaliaram especialistas.

A petroleira publicou na sexta-feira que decidirá "oportunamente" sobre os próximos ajustes, depois que um ataque ordenado pelos Estados Unidos matou o importante comandante militar iraniano Qassem Soleiman e impulsionou os preços no mercado externo.

O petróleo Brent, referência internacional, fechou com alta de 3,6% na sexta-feira, a 68,60 dólares por barril. Nesta segunda-feira, a cotação chegou a ultrapassar o patamar dos 70 dólares por barril, mas operava com alta de 0,15%, a 68,70 dólares, no início da tarde no Brasil.

Especialistas acreditam que ainda não há clareza sobre as potenciais consequências desse ataque na produção de petróleo global e, por isso, acreditam que um reajuste da Petrobras ainda poderá aguardar.

"A margem está apertada sim", disse o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, pontuando acreditar que a empresa permanecerá acompanhando o mercado, mas sem repassar volatilidades.

"Ainda não está consolidada a reação do mercado. Não foi um aumento tão grande das cotações, que poderão ainda subir ou cair... por isso, eu acho que a Petrobras deve aguardar um ou dois dias para fazer seu reajuste."

A política de preços da Petrobras para gasolina e diesel tem como base o preço de paridade de importação, formado pelas cotações internacionais desses produtos mais os custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias.

No entanto, a empresa tem evitado repassar volatilidades externas ao mercado doméstico, depois que uma greve de caminhoneiros eclodiu no ano passado, em meio à política anterior de ajustes quase que diários nas cotações da petroleira.

A Petrobras não revela seus cálculos de paridade de importação.

Araújo ponderou, entretanto, que se as altas se mantiverem contínuas, a empresa eventualmente terá que elevar preços. Para ele, a petroleira precisa manter sua posição de independência em relação ao governo, para que possa seguir com seu programa de venda de ativos e melhorar sua saúde financeira.

DEFASAGENS

A petroleira não reajusta o diesel desde 21 de dezembro. Nos cálculos da Abicom, "com a elevação do preço no mercado internacional (+R$0,04/L desde o último reajuste) e fixação nos preços domésticos, as operações de importação seguem inviabilizadas, com defasagens variando entre -R$0,13/L a -R$0,02/L".

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Já a gasolina está com os preços mantidos desde 1º de dezembro. Segundo a Abicom, desde o último reajuste, o preço do produto no mercado internacional teve queda de R$0,05/L, abrindo oportunidades para importação para Santos e Aratu. O diferencial atual varia entre -R$0,09/L a +R$0,02/L, a depender da região.

A consultoria INTL FCStone, por sua vez, informou em relatório a clientes que a defasagem no diesel no mercado doméstico em relação ao externo no momento está, em média, próximo a 4 centavos por litro. A gasolina, segundo a consultoria, está com defasagem de até 2 centavos de defasagem.

"O cenário ainda é de incerteza e não temos nenhuma restrição efetiva na oferta global, com a alta de preços sendo apenas prêmio de risco até o momento", disse à Reuters o chefe da área de óleo e gás da consultoria INTL FCStone, Thadeu Silva.

O presidente Jair Bolsonaro chegou a procurar a Petrobras na sexta-feira para avaliar o cenário de preços, mas tem mantido sua posição de que o governo não irá interferir na política da petroleira estatal.

Especialistas defendem mudanças na cobrança de impostos sobre os combustíveis que permitam amenizar impactos no mercado interno sem que a arrecadação seja afetada.