Por que mulheres têm tanta dificuldade em entrar no mundo dos investimentos?

Investing.com

Publicado 11.03.2022 17:25

Atualizado 11.03.2022 17:49

Por Ana Beatriz Bartolo

Investing.com - No Brasil, 72% das mulheres não são investidoras, segundo a 5ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, realizada pela Anbima. De acordo com a pesquisa, isso acontece principalmente por causa da falta de dinheiro e do desemprego, além de questões ligadas à educação e a cultura.

Apesar desse número indicar que o mercado financeiro brasilerio ainda é um espaço dominado pelos homens, esse cenário não é exclusivo do país. Ao redor do mundo, mulheres se sentem marginalizadas pelo mundo financeiro, mesmo com a sua renda e interesse aumentando nos últimos anos.

O UBS avalia que desde 2017, a disposição feminina em aprender e participar das decisões sobre investimentos nas suas vidas cresceu. Porém, a pandemia trouxe mais desafios ao grupo, já que são elas quem enfrentam os maiores índices de desemprego e também se tornaram ainda mais responsáveis pelo cuidado do domicílio e das crianças, uma vez que as escolas fecharam durante os lockdowns. 

O aumento de preocupações que a pandemia trouxe fez as mulheres repensarem as suas situações financeiras e buscarem por mais controle nesse segmento, de acordo com o UBS.  A pesquisa Fidelity de 2021 mostrou que houve um aumento de 50% no número de mulheres interessadas em investimentos nos EUA. A tendência é confirmada por um estudo da Nutmeg, que mostra que uma a cada cinco mulheres disseram se sentir mais confiantes para lidar com dinheiro após a pandemia. 

Os números da Fidelity também mostram que 67% das americanas fazem aplicações além do seu plano de aposentadoria, quando em 2018, esse patamar não passava dos 44%. Esse aumento é impulsionado pelas gerações mais jovens, sendo que 71% das millennials estão diversificando suas aplicações, contra 62% das baby boomers. 

Questão cultural/h2

Mesmo com esse aumento do interesse feminino pelas decisões relacionadas ao dinheiro, as mulheres ainda possuem dificuldades em ingressar de fato nesse mercado. A pesquisa Investor Pulse 2021 do UBS mostrou que 68% das mulheres começaram a falar mais sobre finanças dentro de suas famílias no último ano. No entanto, apenas uma fração delas seguiu com as ações que pretendiam tomar.

Por exemplo, enquanto 40% das entrevistadas pretendiam rever a sua situação financeira, apenas 12% realmente o fizeram. Ou então, apesar de 34% quererem discutir a sua carteira com um especialista, somente 9% seguiram com essa ideia. 

O relatório Own Your Worth do UBS em 2021 descobriu que a maioria das mulheres casadas em todo o mundo deixa seus cônjuges tomarem decisões financeiras, apesar de que a mesma pesquisa também apontar que uma decisão conjunta aumenta a confiança no futuro e reduz os possíveis erros. 

As razões para as mulheres abdicarem da sua decisão no assunto incluíam “precedentes históricos e sociais de longa data para a família, papéis de gênero e níveis de confiança”, como seguir exemplos dos pais em termos de papéis de gênero e controle financeiro. 

Porém, é claro que essa visão generalista e que desconsidera aspectos culturais. Em um relatório do BCG, intitulado Gerenciando a Próxima Década da Riqueza das Mulheres, nenhuma entrevistada do Oriente Médio relatou estar envolvida em decisões financeiras, enquanto na Ásia a maioria das entrevistadas disse que assume a liderança em suas famílias. 

 Problema do mercado/h2

Outro grande problema que as mulheres enfrentam quando tentam tomar o controle da sua vida financeira está relacionado com a forma que o mercado trabalha. Uma pesquisa da EY aponta que 67% das investidoras em todo o mundo afirmaram que seus gerentes de patrimônio não entendem seus objetivos.

Mais do que isso,  72% das mulheres disseram que o sistema de investimento foi “criado para ser confuso”, segundo um estudo da PIMCO. Entre as millennials, essa percepção é ainda maior: 81% acreditam que o sistema não é feito para ser de fácil acesso.

O uso de jargões tão pouco ajuda a tornar os investimentos mais compreensíveis. Enquanto um quarto dos homens acham os termos financeiros desanimadores, mais de um terço das mulheres apontam essa questão como algo que torna o mercado confuso e que dificulta que elas sejam compreendidas pelos seus gestores. 

Porém, a riqueza feminina tende a crescer mais rapidamente que a masculina, segundo relatório do BCG. Entre 2021 e 2025, o CAGR das mulheres será de 6%, ante 4,2% dos homens.

O futuro é feminino/h2

O UBS explica que o mercado precisa se adaptar ao universo feminino para poder atender às necessidades de um grupo que ainda está marginalizado. Para isso, é necessário entender que o dinheiro das mulheres é conquistado e utilizado de forma diferente que o dos homens.

Para começar, o UBS pontua que as mulheres tendem a ter salários mais baixos e uma trajetória profissional menos linear, considerando que o seu tempo precisa ser dividido com outras atividades, como o cuidado dos filhos e familiares mais velhos. Além disso, elas vivem mais do que os homens, o que significa que os seus planos de aposentadoria e de saúde precisam ser mais longos que os masculinos.

As mulheres também tendem a ser mais relutantes em assumir riscos na hora de investir. Uma pesquisa da Nutmeg mostra que apenas 3% do público feminino se sente confortável em assumir riscos para se ter um bom retorno, enquanto para homens, esse número é de 26%. Outro estudo da Money Crashers, mostra que elas preferem investimentos imobiliários, enquanto eles optam por ações. 

No Brasil, especificamente, a Anbima aponta que 83% delas escolhem a poupança na hora de investir, contra 68% dos homens. Em seguida, com 7% de preferência delas, vêm os títulos privados, como debêntures e CDBs, percentual que para os homens é de 9%. 

A escolha pela segurança ao invés do risco estaria relacionada com o fluxo de caixa das mulheres. Como elas costumam ser as que mais saem do mercado de trabalho para cuidar da família e são as primeiras vítimas do desemprego, a visão das mulheres sobre os investimentos estaria mais focada no curto prazo, o que distorce a ideia de risco. 

Além disso, a tolerância ao risco está relacionada à confiança financeira, ou seja, quanto menos experiência com o mercado, mais seria o seu medo. Hoje, as mulheres mais jovens possuem mais conhecimento sobre finanças do que as mulheres mais velhas possuíam no passado, por isso as Millennials são propensas a investir mais do que as Baby Boomers.

Isso também indica que elas procuram riscos calculados, já que elas se educam antes de tomar uma decisão. Mulheres também costumam estar mais dispostas a pagar por assessorias confiáveis, de acordo com um estudo da McKinsey & Company.

Além disso, mulheres são duas vezes mais propensas do que os homens em dizer que é extremamente importante que empresas adotem condutas ligadas ao ESG e segundo o UBS, mulheres preferem investir em mulheres, como é visto em plataformas de crowdfunding. 

Por fim, um estudo recente da Warwick Business School concluiu que as mulheres superaram o desempenho dos homens em investimentos em 1,8% ao ano. Isso porque, além das estratégias mais estudadas e calculadas, elas tendem a ser mais resilientes quando o mercado está em baixa, já que são 25% menos propensas a retirar seus investimentos do que os homens. 

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