Riscos de desaceleração global e de populismo doméstico crescem e derrubam Ibovespa

Reuters

Publicado 28.09.2021 17:44

Atualizado 28.09.2021 18:14

Por Aluisio Alves

SÃO PAULO (Reuters) - O principal índice brasileiro de ações teve forte queda nesta terça-feira, acompanhando um pessimismo generalizado nas bolsas no mundo todo com a multiplicação dos riscos à recuperação da economia global, enquanto no Brasil cresce o temor de que esse quadro seja combatido com medidas populistas.

Com queda de 3,05%, o Ibovespa fechou o dia em 110.123,85 pontos, reaproximando-se das mínimas em 2021, abalado sobretudo por ações de empresas ligadas a consumo, justamente as que chegaram a liderar os ganhos dos índices nos últimos meses.

O giro financeiro da sessão, de 36,25 bilhões de reais, acima da média dos últimos dias, deixou claro que o investidor está mais confiante para vender ações.

Uma disparada do preço do gás natural na Europa, com o consumo subindo num momento de oferta restrita e de estoques em níveis críticos, agravou receio de que os custos crescentes de energia serão um desafio crescente para a economia global que ainda começa a se levantar dos efeitos da Covid-19.

Segundo o presidente da casa de análise de investimento Ohmresearch, Roberto Attuch, esse evento se somou a um quadro já tenso, incluindo restrições impostas pelo governo chinês ao consumo de carvão e à indústria siderúrgica, além de questões ligadas ao Orçamento do governo dos Estados Unidos, que também se aproxima de um ciclo de aperto monetário.

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"Esse quadro todo está atrapalhando bastante", disse Attuch, adicionado que o ambiente de menor apetite por risco dá relevo a problemas no Brasil, que também tem um horizonte de crescimento menor e inflação elevada.

Esse quadro teve nova rodada de piora, com a Petrobras (SA:PETR4) anunciando alta do preço do diesel nas refinarias em quase 9%, elevando o reajuste neste ano a mais de 50%.

"Isso tudo faz crescer no mercado a leitura de que o governo está cada vez mais tentado a buscar iniciativas populistas para pode chegar competitivo à eleição de 2022", disse ele.

Nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é um país rico e pode atender "os mais necessitados por mais tempo", indicando possível extensão do auxílio emergencial pago desde o surgimento da pandemia de Covid-19.

A declaração vem no momento em que o governo costura uma polêmica proposta de adiar parte do pagamento de precatórios para poder deslanchar seu programa social Auxílio Brasil.

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h2 DESTAQUES/h2

- BANCO INTER (SA:BIDI11) perdeu 11,8%, pior desempenho do índice. O banco desmentiu matéria veiculada mais cedo pelo Broadcast de que estaria preparando uma provisão maior para perdas no balanço. BANCO PAN caiu 4,39.

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- AMERICANAS recuou 6,2%, enquanto MAGAZINE LUIZA (SA:MGLU3) teve retração de 5,5% e MÉLIUZ (SA:CASH3) cedeu 8,65%, com gestores desmontando apostas em empresas de consumo.

- CSN (SA:CSNA3) teve baixa de 7,84%, seguida por USIMINAS (SA:USIM5), com desvalorização de 7,3%, enquanto VALE (SA:VALE3) foi depreciada em 5%, pondo fim a uma recuperação desde a semana passada na esteira da recuperação dos preços do minério.

- BRASKEM (SA:BRKM5) reverteu e caiu 3%, mesmo após a petroquímica ter anunciado acordo de sua subsidiária Braskem Idesa com a mexicana Pemex para quitar pendências contratuais e para ume terminal de importação de etano.

- PETROBRAS também não sustentou ganhos e declinou 0,7%, seguindo a correção para baixo dos preços do barril do petróleo.

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- BRF (SA:BRFS3) resistiu à avalanche de vendas de ações e subiu 1%, assim como MARFRIG (SA:MRFG3) com ganho de 0,25%, ainda na esteira da decisão da semana passada do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que aprovou sem restrições a compra de ações da BRF pela Marfrig.