Taxas futuras de juros disparam após Lula dizer que meta fiscal zero “dificilmente” será alcançada

Reuters

Publicado 27.10.2023 16:54

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - A afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a tarde de que a meta de resultado primário zero em 2024 dificilmente será alcançada azedou o clima no mercado brasileiro nesta sexta-feira, fazendo as taxas dos DIs encerrarem o dia em forte alta, superior a 20 pontos-base nos principais vencimentos.

Em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, Lula disse que entende que a disposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas fez uma série de ponderações sobre a meta.

“Nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque não quero fazer cortes em investimentos de obras", afirmou o presidente.

“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que eu posso dizer é que ela não precisa ser zero, a gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para este país”, acrescentou.

Antes da fala de Lula, publicada às 13h55, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) operavam próximas da estabilidade. Mais cedo, algumas delas chegaram a oscilar no território negativo.

“O (contrato para) janeiro de 2026 chegou a cair alguns bips e agora está abrindo 18 bips, que é um movimento enorme para cima”, comentou durante a tarde Laís Costa, analista da Empiricus Research.

Na prática, os receios em torno do cumprimento da meta fiscal em 2024, que já permeavam o mercado, foram reforçados pela fala de Lula, que coloca em dúvida o espaço do Banco Central para reduzir a taxa básica Selic no futuro. A visão é de que os cortes de 0,50 ponto percentual da Selic continuarão nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, mas as dificuldades fiscais do governo limitarão o nível terminal da taxa básica no atual ciclo.

“O mercado estava acompanhando bem o exterior, estava relativamente calmo, o problema foi a fala do presidente. O cenário virou completamente”, pontuou Costa. “No fim das contas, se não temos uma regra fiscal a ser perseguida, não há ancoragem de inflação e não há ancoragem fiscal”, acrescentou.

A taxa do contrato futuro para janeiro de 2026, que chegou a oscilar levemente no negativo, subiu 26 pontos-base no pico da sessão, às 15h25. No fechamento, acomodou-se um pouco, mas ainda assim com alta firme.

O movimento de alta das taxas no Brasil foi favorecido também durante o início da tarde, ainda que em menor proporção, pelo avanço dos rendimentos dos Treasuries.

Nos EUA, investidores ponderavam os dados econômicos divulgados durante a semana, como o Produto Interno Bruto e o índice de preços PCE, além dos desdobramentos do conflito entre Israel e Hamas no Oriente Médio.

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No fim da tarde, porém, o rendimento do Treasury de 10 anos -- referência global de investimentos -- já havia migrado para o negativo, em meio à baixa do índice de ações S&P em Nova York, com a percepção de maior risco global permeando os negócios. Durante a tarde, a Jordânia informou que Israel havia lançado a guerra terrestre em Gaza. Em busca de proteção, investidores saíram do mercado de ações e buscaram a renda fixa norte-americana, o que colocou os yields em baixa.

Na próxima semana, as atenções estarão voltadas para a quarta-feira, quando ocorrem as decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil.

Perto do fechamento desta sexta-feira a curva a termo precificava em 97% as chances de o corte da taxa básica Selic na próxima semana ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 3%. Estes percentuais vêm se repetindo desde quarta-feira da semana passada. Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano.