Troca na Petrobras afasta investidor, dificulta saída da crise, dizem economistas

Estadão Conteúdo

Publicado 21.02.2021 13:00

Atualizado 22.02.2021 08:25

Troca na Petrobras afasta investidor e dificulta saída da crise, dizem

A intervenção na Petrobras (SA:PETR4) feita pelo presidente Jair Bolsonaro, que anunciou pelo Facebook a troca do comando da estatal, na noite de sexta-feira, 19, terá o efeito imediato de afastar investidores, empurrar o dólar para cima e ampliar as incertezas da economia. No longo prazo, deixará mais cara a saída da crise, o ajuste das contas públicas e as reformas, segundo especialistas.

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A avaliação é que a retomada do crescimento sai prejudicada com o episódio, mas não há um consenso se haverá uma guinada ainda mais populista por parte de Bolsonaro. Se isso acontecer, dizem eles, o preço da retomada sairá muito mais alto.

Para alguns economistas, a decisão de Bolsonaro marcou um ponto de inflexão. Desde o início do mandato, afirmam, o presidente deu mostras de que sua visão liberal da economia era apenas um "verniz" aplicado pelo ministro Paulo Guedes para ser mais bem aceito pelos eleitores que buscavam uma alternativa ao PT.

Entre muitos episódios nessa linha, o mais recente aconteceu em janeiro, com a decisão de Bolsonaro afastar o presidente do Banco do Brasil (SA:BBAS3), André Brandão, após a instituição anunciar cortes de funcionários e fechamento de agências. Guedes conseguiu, naquele momento, segurar a intervenção no banco, de capital aberto - mas não reverteu a decisão agora na Petrobras.

"O Guedes fica de goleiro no pênalti, com o Bolsonaro chutando a gol", diz Ana Carla Abrão, economista e sócia da consultoria Oliver Wyman no Brasil. "Conforme a popularidade vai caindo e a base o pressiona por medidas que não conversam com agenda econômica, Bolsonaro faz a escolha que é condizente com sua trajetória política." Para ela, o presidente claramente vem subindo o tom das medidas populistas.

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Segundo Sérgio Lazzarini, professor de economia do Insper, o perfil intervencionista do presidente tende a se acirrar, porque o ciclo eleitoral tornou-se prioridade. "Bolsonaro começa a perder muito a franja do liberal econômico e vai se agarrar mais no populismo para agradar seu eleitorado, como o caminhoneiro e o conservador raiz, como estratégia de ir ao segundo turno com 25% dos votos e torcer para uma nova polarização nas eleições", diz.

A teoria, porém, não é uma unanimidade. "A troca de comando na Petrobras não foi uma guinada: foi o Bolsonaro em seu estado mais chucro... e põe chucro xucro nisso", afirma Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC). Para ele, não há novidade no movimento, que é a "enésima lição do que é o Bolsonaro."

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Só que, se o presidente insistir em continuar provocando instabilidade, a retomada será mais difícil. "A janela para colocar economia do País no eixo, principalmente na questão fiscal, está estreitando", afirma. "Se a economia emburacar de vez, não haverá votos de caminhoneiro, nem de ninguém."

Sergio Werlang, também ex-diretor do BC, diz que ainda é cedo para falar em guinada populista pelo mesmo motivo: as políticas fiscais para equilibrar o País são tão urgentes e o efeito de não fazê-las seria tão negativo que zeraria qualquer efeito benéfico do ponto de vista eleitoral.

Também existe a leitura que não há um divórcio entre Bolsonaro e Guedes. "O episódio certamente revela os limites do presidente e seu estilo de governança que subestima o tamanho do custo reputacional", diz Christopher Garman, da consultoria Eurasia. "Mas Bolsonaro enxergou que o risco de uma greve de caminhoneiros poderia ser fatal para seu governo, que vive um momento social delicado, de aumento de inflação, queda de renda e de sua consequente popularidade."

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Para ele, ao contrário do episódio do BB, Guedes não evitou a intervenção porque soube entender o momento. "A leitura de que Guedes não apita e a agenda liberal morreu é equivocada", diz ele. "Bolsonaro nunca acompanhará ou terá compromisso programático com a agenda liberal, mas está alinhado intuitivamente a ela."

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O consenso é que a incerteza causada pelo movimento de Bolsonaro deve provocar novamente a queda nas ações da Petrobras nesta segunda-feira (22), com a saída de investidores e dólares - o que causará o efeito oposto ao pretendido por Bolsonaro no preço dos combustíveis. "Só há um jeito de diminuir a oscilação cambial, que é melhorando a delicada situação fiscal do País", diz José Márcio Camargo, economista chefe da Opus Investimentos. "O problema é que, com tanto ruído, os investidores têm dificuldade em acreditar que situação será resolvida."

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A alta no câmbio tende a pressionar a inflação. E a intervenção na Petrobras gerará ainda novos embates políticos, exatamente na semana decisiva para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que deve viabilizar a nova concessão do auxílio emergencial, associada a medidas de compensação fiscal.

"Cria ruído político desnecessário, em uma semana importante", diz Carlos Kawall, diretor do Asa Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional.

Esse, aliás, é outro ponto com o qual todos os especialistas concordam: Bolsonaro teria como agradar aos caminhoneiros sem fazer o estrago na Petrobras. Uma das alternativas era usar os assentos do governo no conselho de administração para pressionar por mudança ou maior transparência na política de reajuste de preços. "Também pode-se fazer algum subsídio, como acontece com a energia", diz Camargo. No longo prazo, também ter uma estatal que se submeta a uma política de Estado, e não do governo da vez, com uma agência reguladora forte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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