Empresa indiana espionou políticos e investidores em todo o mundo

Reuters

Publicado 09.06.2020 11:21

Atualizado 09.06.2020 11:40

Por Jack Stubbs e Raphael Satter e Christopher Bing

LONDRES/WASHINGTON (Reuters) - Uma desconhecida empresa indiana de tecnologia da informação ofereceu serviços hackers para ajudar clientes a espionar mais de 10 mil contas de email ao longo de sete anos.

A BellTroX InfoTech Services, sediada em Nova Delhi, teve como alvo autoridades de governos na Europa, magnatas de jogos de azar nas Bahamas e investidores conhecidos nos Estados Unidos, incluindo a gigante de private equity KKR e a Muddy Waters, segundo três ex-funcionários, pesquisadores externos e um rastro de evidências online.

Aspectos dos ataques hackers da BellTroX voltados para alvos norte-americanos estão atualmente sob investigação da polícia dos EUA, disseram cinco pessoas familiarizadas com o assunto à Reuters. O Departamento de Justiça dos EUA se recusou a comentar.

A Reuters não conhece a identidade dos clientes da BellTroX. Em uma entrevista por telefone, o proprietário da empresa, Sumit Gupta, se recusou a divulgar quem o contratou e negou qualquer irregularidade.

O fundador da Muddy Waters, Carson Block, disse que ficou "decepcionado, mas não surpreso, ao saber que provavelmente fomos alvos de hackers por um cliente da BellTroX". A KKR se recusou a comentar.

Pesquisadores do grupo de vigilância da Internet Citizen Lab, que passaram mais de dois anos mapeando a infraestrutura usada pelos hackers, divulgaram um relatório nesta terça-feira dizendo que estavam confiantes de que os funcionários da BellTroX estavam por trás da campanha de espionagem.

"Esta é uma das maiores operações de espionagem contratada já expostas", disse o pesquisador do Citizen Lab, John Scott-Railton.

Na lista de alvos estão juízes da África do Sul, políticos do México, advogados da França e grupos ambientais dos Estados Unidos. Essas dezenas de pessoas, entre as milhares visadas pela BellTroX, não responderam a mensagens ou recusaram comentar.

A Reuters não conseguiu estabelecer quantas das tentativas de invasão foram bem-sucedidas.

Gupta, da BellTroX, foi acusado em um caso hacker em 2015, no qual dois investigadores particulares dos EUA admitiram pagar a ele para invadir contas de executivos de marketing. Gupta foi declarado fugitivo em 2017 e o Departamento de Justiça dos EUA se recusou a comentar sobre o status atual do caso ou se um pedido de extradição foi emitido.