Jornalistas usaram IA para rastrear militante alemã bem antes da polícia

Reuters

Publicado 29.02.2024 14:36

Por Thomas Escritt

BERLIM (Reuters) - Jornalistas investigativos alemães, ao usarem uma ferramenta de inteligência artificial, estavam no rastro de uma integrante fugitiva da famosa Facção do Exército Vermelho bem antes de a polícia alemã anunciar um avanço no caso de 30 anos nesta semana.

Daniela Klette, de 65 anos, membro do grupo militante de esquerda, foi presa na segunda-feira em seu apartamento em Berlim sob suspeita de ter cometido uma série de roubos e pelo menos uma tentativa de assassinato entre 1999 e 2016 para financiar sua vida clandestina.

A polícia e os serviços de segurança alemães têm sido criticados por suas falhas em algumas investigações de cunho político. Seus defensores afirmam que as rígidas leis de privacidade limitam sua capacidade de usar os tipos de ferramentas aprimoradas por IA que um podcast da TV alemã utilizou para rastrear Klette no ano passado.

Daniela Behrens, ministra do Interior do Estado da Baixa Saxônia, onde muitos dos crimes foram cometidos, saudou a prisão de Klette como um grande avanço e um tributo à diligência da polícia e dos promotores no caso.

No entanto, no ano passado, um podcast da emissora ARD rastreou Klette, uma das três militantes do grupo ainda procuradas 26 anos depois da sua dissolução, colocando a foto de seu aviso de procurada na ferramenta de busca de imagens PimEyes.

A ação resultou em imagens online de uma mulher muito mais velha chamada "Claudia Ivone" que, até a pandemia da Covid-19 em 2020, participava regularmente da cena afro-brasileira de Berlim e era praticante de capoeira.

"Recomendo enfaticamente que vocês sigam esse rastro", lembrou o jornalista investigativo do Bellingcat, Michael Colborne, dizendo aos podcasters em uma entrevista ao Die Zeit nesta quinta-feira. Ele disse que havia passado as fotos por uma série de ferramentas de comparação de rostos e que o resultado era sempre o mesmo.

Alguns veículos informaram que a equipe do podcast havia repassado suas descobertas às autoridades, que na terça-feira disseram ter sido colocadas no caminho certo por uma denúncia recebida do público em novembro. No entanto, os criadores do podcast disseram que não foi assim.

"Nós não repassamos nenhuma descoberta. É uma questão de política e de proteção de nossas fontes", disse Khesrau Behroz, apresentador do podcast.